O que nossos filhos dirão de nós?

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Calma. Esse não é mais um post sobre Geração Y.
É um post sobre algo muito mais óbvio: filhos olhando para os pais e não querendo repetir os mesmos erros.
Lembro claramente de uma das conversas filosóficas com meu amigo Ruckopf, lá pelos 16 anos.
Ele me perguntou se quando “fosse nossa vez” (quando nós fôssemos professores, pais, gerentes, donos de empresas, ou o que viéssemos a ser), nós não faríamos igual àqueles que nós criticamos.
E me fez prometer que não faria. E redobrou o peso da promessa não estando mais entre nós.
Acredito que venho cumprindo isso, com todos os custos que isso pode incorrer. Porque Ruckopf estava adiante de seu tempo, e os conceitos que discutíamos não são o modus operandi do ambiente profissional de hoje.
Por exemplo: aceitar e obedecer sem entender ou sem acreditar, só pelo benefício imediato. Isso era um crime para ele. Hoje, infelizmente, é o modus operandi da maioria das empresas no Brasil.
Profissionais criam estilos para justificar esta anulação, atribuindo às conquistas profissionais o sucesso e a realização pessoal, quando na realidade, não passam de máscaras para pessoas que não concordam, acreditam, ou nem mesmo gostam da vida que estão vivendo. Porém repetem, à exaustão, que aquilo é o bom, aquilo é o sucesso, e que são felizes. E acabam se convencendo. Ou enganando.
Esta geração já não tem conserto. A mudança só poderá vir na próxima.

Irão os jovens querer ser Profissionais?

Talvez aquilo que esta geração cultua como a coisa mais importante da carreira será tudo o que os jovens NÃO vão querer ser: ser “PROFISSIONAL”.
Vamos entender qual faceta do termo eles irão aposentar. Obviamente, há uma parte no termo que é muito positiva: aquela que envolve competência e comprometimento com sua atividade.
É o outro lado da moeda que eles irão refutar. Aquela parte onde o profissional sobrepõe o humano e suas emoções. Aquela que prega a obediência cega. Aquela que separa o pessoal do profissional.
Num ambiente corporativo hoje, todo “adestramento” é feito de forma a deixar de lado as emoções e agir com a razão. Emoções são mal-vistas. As mulheres vêm sofrendo isso com mais intensidade, por sua maior sensibilidade emocional (e se você viu algo de negativo nisso, já está “adestrado”). Elas precisam anulá-la para se manterem “profissionais”. Porque alguém que manifesta emoções ou chora em uma reunião é fraco, é mole… não é “profissional”.
Pior ainda quando o “profissional” é ordenado a fazer algo que não concorda ou que não acredita. Se você questionar alguém que está fazendo algo que julga errado, seja do ponto de vista operacional, tático, estratégico, ético ou moral, provavelmente ouvirá uma resposta com uma alusão ao termo: “Ah, veja bem, eu sou um profissional, eu tenho que fazer isso“.
Outro indício é a mudança de emprego. O “profissional” sai da empresa A e vai para a empresa B. Antes A era lindo e B era horrível. Agora B é lindo e A é horrível. Não sei se Froid explica, mas George Orwell sim.
A empresa se torna dona do corpo e da mente durante o período de contratação profissional. O indivíduo se anula durante a maior parte do tempo, e tem alguns momentos para dissipar essa sensação quando lhe é dada a possibilidade de ser novamente humano. Como noites e fins de semana estão cada vez mais sendo invadidos por atividades profissionais, este lado humano precisa ser satisfeito de forma rápida. Nada que um cartão de crédito e uma boa gama de sucessos enlatados não resolvam…
Nossos filhos farão as contas de quanto tempo nossa geração passou no cubículo e quantas horas na Disney. Olhando de fora, eles entenderão que a conta não fecha. Vamos torcer para estarmos lá, pois o stress vem dizimando cada vez com mais força.
Eles vão perceber que querem mais tempo como humanos. Mais tempo fazendo algo em que acreditam. Mais tempo fazendo algo que dá prazer, e não algo que será trocado por prazer numa razão de 10:1.
Nossos filhos nos condenarão por termos sido profissionais, porque eles preferem humanos. Eles procurarão atividades que acreditam ser relevantes. Recusarão propostas para enjaular suas mentes e direcionar seu pontencial para atividades com as quais não concordam. E não morrerão de fome, porque estão em bando.
Eu olho para tudo isso e fico feliz, porque apesar dos humanos terem se tornado extremamente egoístas, nossos filhos nos dão esperança.

9 comentários em “O que nossos filhos dirão de nós?”

  1. patricia mantovani

    1) Que saudades das nossas conversas lá na copa…
    2) Correção no site: apaixonado por redes, fotografia, psicologia e filosofia.
    3) A única conta que não fecha no seu texto é que as escolas de hoje, pressionadas por nossa geração de pais “super profissionais” bombardeiam nossos filhos de conteúdo e competitividade, inglês, espanhol, informática (piada de mal gosto, nossos filhos de 8 anos viram o professor do avesso) e chinês como matéria optativa. Artes e esportes são de menor relevância. Se forem muito competentes – as escolas – sua profecia não se realiza.
    4) Só posso torcer para que você esteja certo, Amém, Que assim seja!!
    5) Um grande abraço 🙂

    1. Oi Patrícia!
      Uma das melhores partesde manter um blog é receber comentários como este! 😉 Obrigado!!!
      Entendo e compartilho sua dúvida, mas saber que temos pessoas como o Ken Robinson do nosso lado ajuda a manter as esperanças acesas.
      Talvez você ja conheça este vídeo (sensacional) dele, onde ele questiona justamente isso: as escolas estão matando a criatividade? – http://www.ted.com/talks/lang/eng/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html
      Outra recomendação para quem tem filhos: “A whole new mind”, do Daniel Pink.
      Bjs!
      Luciano

  2. Olá Luciano!
    Adorei o texto…Gosto muito das suas reflexões…
    Ah, fiz minha inscrição no Social Media ontem…Estará por lá novamente?
    Beijo e sucesso sempre!
    Tainah.

  3. Ana Paula de Almeida

    Estranho o sentimento que me despertou o teu post Palma – “O que nossos filhos dirão de nós?”, confesso que fiquei reflexiva em maior tempo do que de costume, e resolvi comentar o post.
    Ao ler “Nosso Filhos” ao longo do texto, facilmente visualizei os jovens e crianças que estão a minha volta hoje se desenvolvendo com todas as influências tecnológicas disponíveis, mudança de valores, rótulos para suas respectivas gerações, acesso a diversas culturas e hábitos.
    Observo e entendo os questionamentos de como esses fatores contribuirão para o entendimento/vivência desses jovens, em relação à satisfação pessoal x profissional x valores x desenvolvimento do senso crítico, impactando diretamente na sua formação profissional.
    Contudo a minha inquietação está no seguinte ponto: Ao mesmo tempo em que visualizo esta geração de “Nossos Filhos” eu também faço parte dela. E dessa forma sempre dedico alguns minutos de reflexão sempre que leio um artigo que fala das gerações ou sobre comportamento.
    Vivencio uma geração que muitas vezes não difere lazer do trabalho pois se deixam envolver a tal ponto por suas atividades que elas deixam de ser obrigações. Vivencio uma geração que reluta em trabalhar em empresas que contratam apenas pecinhas para a sua linha de produção. Vivencio uma geração que quer a cada dia se desenvolver e ser reconhecido por suas competências profissionais e pessoais.
    Porém vivencio também o “adestramento” de emoções e consequentemente a frustração profissional que vem intrínseca neste abster de senso critico cultivado por algumas empresas.
    De qualquer forma, o que busco e espero que os “nossos filhos” possam encontrar, são empresa que não somente os vejam com mais um profissional diante de tantos outros, e sim como pessoas a se desenvolverem e crescerem e consequentemente impacterem no dia-a-dia da empresa, indiferentemente de suas atividades ou obrigações.

    1. Ana Paula,
      Que comentário recompensador!!! Obrigado!!!
      Você complementou de forma preciosa o post. “Nossos filhos” já estão em alguns de nós.
      Como toda geração, somos elementos de transformação do mundo que “pegamos” para o mundo que “entregaremos” a nossos filhos, como numa corrida de revezamento.
      Pessoas que pensam como nós são os elementos que permitem essa evolução – e acredite, não somos poucos.
      Temos que iniciar o processo de mudança. Um gesto pode ser o de não trabalhar em empresas que FALAM em valorização do funcionário mas não PRATICAM isso. Que FALAM em inovação porque está na moda, mas não querem sair do conforto do “Status Quo” e acabam não REALIZANDO inovação.
      Automaticamente, você estará construindo empresas onde você e eu queremos trabalhar, e onde nossos filhos também vão querer. Talvez fazendo isso, nossos filhos falem de nós com muito orgulho.

  4. Olá Palma, maravilha te reencontrar após as “baladas’ do Banco ABN, lembra?
    Lendo esse teu pensamento me fez ver, que existe vida atrás dum badge… Vc já vivenciou isso também pelo que noto…
    Invariavelmente o ser humano tem a tendência de seguir o bando, e infelizmente a maioria não tem parado pra refletir no que estão fazendo a suas próprias vidas: trocando felicidade verdadeira por algumas moedas…
    Temos de olhar pra dentro, reparar em nossas convicções o que realmente queremos ser, sim, “SER”, não “TER”, e acreditar que vale a pena seguirmos nosssos melhores sentidos.
    Tenho 3 filhos, e não quero que sejam os top ultra seven master of the universe, mas sim que sejam grandes pessoas 1)Espirituais 2)Emocionais 3)Completos em felicidade, não em bens.
    Dá vontade de chorar quando vemos a escola ensinar nossos filhos como preencher “x” nas questões de múltipla escolha, mas quando eles entram na portaria não ouvem sequer um “bom dia” das ‘tias”… Falta educação e cidadania.
    Vale a pena sim pensar fora da caixa, repensar valores, estar feliz com o que se tem. Aí sim a troca tem chance de ser justa.
    Parabéns pela iniciativa, não vamos mais perder contato.
    Grande Abs,
    Edivan

    1. Muito bom mesmo te “rever”, Edivan!
      Sim, tem muita vida, muito coração, muita humanidade por trás da pectina corporativa. É só uma questão de darmos uma “batidinha” e quebrarmos essa casca que a tantos engessa…
      Fico muito feliz de ler um comentário como o seu. É como se alguém batesse no ombro e me dissesse: “você não está sozinho, meu irmão!”. Dá muita força para continuar não só acreditando (isso nunca deixaremos), mas repassando as ideias.
      Acredito que fazendo isso, meus filhos e seu filhos não cheguem a ouvir o que ouvi numa “aula” de MBA: que os médicos devem priorizar os melhores planos de saúde para maximizar seus lucros.
      Só com um toque de humanidade conseguiremos expurgar esse raciocínio que coloca o lucro acima da vida humana. E temos obrigação de fazer isso, porque esse mundo vem ficando mais materialista de quando pusemos os pés nele até hoje, então precisamos fazer algo para deixar, se não um mundo melhor, pelo menos um mundo que não seja pior do que recebemos.
      Tem muito chão, mas também tem muita energia e tem muita gente boa para recolocar o trem nos trilhos. Mãos à obra!
      Grande abraço!
      Luciano

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