E o Rei continua nu

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Ilustração de Bertall para o conto A Roupa Nova do ReiSe você conhece a parábola d’A Roupa nova do Rei, já deve ter usado a expressão “o Rei está nu”.
Pois os nossos atuais “Reis” continuam elegantemente nus. O problema em afirmar isso é ser chamado de burro pelos atuais “inteligentes”.
Falando abertamente: sou um brasileiro privilegiado. Tive oportunidade de estudar e fazer uma faculdade (com muito empenho e orgulho). Fiz até um MBA (ok, este não exigiu empenho e dele não me orgulho… aliás, eu não recomendo).
Na atual sociedade brasileira, porém, sou considerado um grande burro. Porque só os “inteligentes” enxergam a roupa nova do Rei. E eu só vejo “Reis” totalmente nus.
Eu vejo uma sociedade doente, de escravos brancos fingindo serem felizes e se acabando em antidepressivos, bebidas, consumismo exacerbado e outros subterfúgios.
Vejo uma sociedade materialista, onde um lixeiro honesto não tem honra, mas jogadores de futebol que assassinam gente com seus caros brinquedos, consomem drogas e desobedecem as leis são idolatrados. Isso sem falar nas pessoas que atingem o “sucesso enlatado”, materializado em carros esportivos, iates e jóias, que ofuscam os métodos utilizados para obtê-los.
E os atuais “inteligentes” continuam se auto-enganando, fingindo viver uma vida saudável num ambiente insalubre. Alguns chegam até a se convencer disso, sendo assim considerados ainda mais “inteligentes”. São os “inteligentes” que acham normal pagar 100 mil Reais por um automóvel (que – diga-se de passagem – um americano paga um terço) simplesmente porque, com sua “inteligência”, conseguem obter tais recursos. Ou fingir que obtém, afundando-se em financiamentos plurianuais. E saem todos felizes às ruas, nus em suas “roupas de Reis”, uns fingindo ver os belos trajes dos outros. Todos nus.
E o “esperto alfaiate”, por onde anda?
Este está “no topo da cadeia alimentar”. É ele que inicia todo o processo de nudez, iludindo o primeiro “Rei”.
São os “novos alfaiates” que estipulam, em suas nababescas alfaiatarias, as taxas de juros que serão pagas pelos “inteligentes” peladões.
Eles que determinam os preços insanos nos supermercados da “Realeza in natura”. Eles que fixam valores surreais para ligações telefônicas, planos de saúde, automóveis que tão invisivelmente cobrem a nudez dos “Reis”.
“Reis” que repassam a farsa a seus súditos, pois não se importam em pagar montes de dinheiro por uma bela “Roupa nova” – basta repassar o preço para os plebeus que eles dominam.
Uma pizza custa 10% de um salário mínimo? Sem problemas: aumente o preço do vinho que você revende para 50% do salário mínimo e pague-a com seu enorme lucro. E o “Rei” que compra o vinho? Simples: basta aumentar o preço do terno que ele revende para 2 salários mínimos, com um lucro grande a ponto de manter a ciranda girando… mantendo o desfile de “belíssimas Roupas novas”.
É claro que os “Reis” estão simplesmente girando em falso na sua nudez e na sua ganância, repassando para os “plebeus” o abuso imposto a eles pelos “espertos alfaiates”.
Infelizmente, os “alfaiates” têm se mostrado “espertos” a ponto de realizar mutações que impedem a queda de suas máscaras. E continuam rindo dos “Reis”, que continuam nus, nuzinhos…
Reflita sobre isso e responda silenciosamente para você mesmo, diante do espelho mais nítido da vida que é sua consciência: que roupa você vai vestir hoje?

6 comentários em “E o Rei continua nu”

  1. Eu A-D-O-R-O essa fábula. Acho uma das mais aplicáveis na nossa vida moderna e, em particular, na de tecnologia. É por causa dessa característica tão inerente à raça humana que o Não Sei / Não conheço / Não vi é tão difícil de ser declarado. Falar abertamente que vê um rei nú é realmente para poucos. Não comprar – por opção – esse carro de 100k, o último Smart Phone, a bolsa Louis Vuitton, ou a escola caríssima para os filhos também não é para muitos.

  2. Como professora, vou utilizar seu texto para reflexão em aula. Sou burra ao quadrado e existem mts Reis que conseguem conduzir uma multidão com um poder tão vazio… difícil pra gente burra entender como os “inteligentes” se deixam levar assim tão fácil. 😉

    1. Jamille, não tenho palavras para agradecer sua atitude. A sala de aula é um ótimo lugar para discutir o assunto. Tenho certeza que suas ações ajudarão a construir um mundo mais “resistente” a reis e alfaiates “inteligentes”.

  3. Muito boa!Otima visão da sociedade em que vivemos,expressada de uma maneira bem clara como a alienação e manipulação que a sociedade sofre é camuflada para que os verdadeiros burros pensem ser inteligentes.

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