O ser humano e seu potencial. Porque ambos são tão mal explorados?

Por diversas razões, tenho me dedicado mais ao estudo do comportamento humano do que ao estudo de sistemas eletrônicos – coisa que fiz durante a maior parte de minha vida.
Não pretendo me tornar um sociólogo, muito menos psicólogo ou neuro-cientista de uma hora para a outra. Mas é assustador o quanto as pessoas vêm se comportando como máquinas – quando elas têm potencial para muito mais!

Ao ler os comentários do fantástico post “Desobedeça”, de Augusto de Franco, o tão badalado termo “Líder” me soou totalmente diferente do que eu estava acostumado.
Primeiro no comentário da Angela, que mostra o quanto seguir um líder sem questionamentos pode ser trágico.
Depois, o Bosco mostra o quanto os “líderes” atuais estão se tornando arcaicos, através de um exemplo tão impressionante que é até difícil de acreditar!

Colocar pessoas para realizar tarefas de forma mecânica, além do desperdício de potencial humano, é um péssimo negócio. Programe direito um sistema que ele fará a mesma coisa a um custo muito mais baixo. Quer um exemplo? Call Centers de serviços de telefonia. Precisa de gente para repetir o mesmo script, na mesma sequência, independente do que você argumenta?! Um sistema, além de mais barato, poderia ser reprogramado para eliminar os gerúndios! Desagradável por desagradável, eu prefiro um desagradável sem gerúndios, e você?

Só que o desperdício não para por aí. Hoje formamos profissionais para trabalhar mecanicamente. E quando digo “formamos”, não estou falando somente dos cargos mais baixos na “hierarquia”. Refiro-me à formação superior e às diversas pós-graduações que o mercado oferece e consome (com a mesma mecanicidade citada antes).
Basta olhar para a maioria dos escritórios (e quanto maior a empresa, parece que mais clara a coisa fica) – as reclamações são sempre as mesmas. Cargos obtidos politicamente. Chefes que impedem o crescimento dos funcionários por se sentirem ameaçados por aqueles que se destacam. Processos sendo seguidos sem se saber o porquê. Métricas sendo fabricadas porque o santificado “scorecard” tem que estar verde. Prêmios que não são – nem de longe – unanimidade. E muito, muito mais – tudo isso num ambiente onde a obediência aos mitos (sem jamais questioná-los) vale muito mais do que a criatividade e o desenvolvimento do potencial individual.

Aonde isso tudo nos levará? Foi daí que me vieram à mente os Lemmings. Ok, pode ser um mito, mas você pegou a idéia. Seguir instruções sem questionar pode levar a tragédias. E se os Lemmings são um mito, o exemplo da Ângela é bem real – "Comandante em Auschwitz: notas autobiográficas de Rudolf Höss" (1958). Höss nunca questionou as ordens do chefe. Foi um “profissional” de absoluto sucesso. Chegou ao topo em sua carreira. De acordo com os padrões atuais, alguém admirável, no qual pessoas nos escalões inferiores da hierarquia devem se espelhar, pois este é o padrão de sucesso no mundo que vivemos: mais no topo, mais sucesso.

Comparação radical? Será? Ou estará somente no passado? Afinal tudo que está no passado é muito mais fácil de avaliar. Então vamos tentar projetar 100 anos à frente (reparem que sou otimista e considero que estaremos à frente).
O discurso seria mais ou menos assim: “Nossa! No século XV queimavam bruxas!”. “Caramba! No século XX queimavam etnias”. “Wow! E no século passado queimavam… idéias!”.
Você consegue imaginar quantas idéias estão sendo sufocadas, quanta criatividade está sendo tolhida, pelo estilo de gerenciamento vigente? (aliás, o mesmo do século XX, não?).

Compartilho a visão que as redes ajudarão a libertar esse potencial humano. Essa criatividade. Essa capacidade de criar, inventar, questionar, discutir, descontruir e reconstruir que o século XX deixou sob mantos bordados com a palavra “sucesso”.

Boas reflexões!

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