Neste espaço, Luciano Palma*
compartilha algumas ideias com o mundo.
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* sócio fundador da LPalma.com
Contra o vírus, números!
Em momentos de pandemia, apesar da biologia ser a ciência mais importante para combater o vírus, a matemática também pode contribuir de forma significativa.
Através da coleta e da análise de números sobre a pandemia de Covid-19, podemos buscar padrões para tentar antecipar o a forma com que o vírus se alastra.
Fiz uma análise bem pouco acadêmica dos dados da Itália (utilizando informações do Worldometers) e os resultados foram muito interessantes. Considerando que análises mais avançadas podem ser realizadas com técnicas e tecnologias existentes, fica claro que governos e sistemas de saúde podem se preparar melhor para o controle da pandemia se as aplicarem para realizarem boas previsões.
A tese inicial foi que o número de mortes diárias estaria relacionado com o número de novos casos por dia – o que parece razoável intuitivamente.
Com isso, analisei o gráfico de novos casos diários no dia 05/04/2020 e tracei uma curva – ainda que de forma um pouco grotesca – para representá-los (em vermelho):
Analisei então o gráfico de mortes por dia, e com a amplitude ajustada para a mesma do gráfico acima, procurei deslocar a curva em alguns dias, buscando um “encaixe” (que refletiria uma correlação), e de fato foi possível notar uma semelhança considerável nos gráficos, com uma defasagem de cerca de 8 dias:
O próximo passo foi fazer uma projeção da curva, novamente de forma intuitiva e sem grande embasamento teórico. Já era bastante razoável considerar, no dia 05/04/2020, que a “descida” da curva se daria de forma menos acentuada do que a subida (a projeção é a parte laranja):
Com base nessa projeção, é possível fazer um cálculo para tentar prever, aproximadamente, o número de mortes que devem acontecer na Itália.
Este número, infelizmente, aproximou-se do montante de 40.000 mortes.
2 semanas depois…
Passadas 2 semanas, resolvi revisitar os dados para ver o quanto a previsão inicial era razoável, e o resultado foi impressionate. Confira nos gráficos abaixo como os dados reais flutuaram em torno da curva projetada:
A nova curva “real” (vermelha) continua tendo uma forte correlação com a curva de mortes por dia – e permite, inclusive, ajustar a curva laranja para que as previsões sejam sempre mais apuradas:
Conclusão
Os números podem ajudar no combate ao Coronavírus, dando-nos uma direção sobre como será o comportamento da pandemia e permitindo o planejamento de recursos e de ações.
Obviamente, os dados precisam ser reais (ou próximos à realidade), pois fazer uma projeção com base em dados errados pode ser até pior do que não fazer projeção alguma.
Essa é uma das razões desta análise ter sido feita com dados da Itália. Infelizmente, os dados no Brasil não são confiáveis, pois por questões políticas, a subnotificação é notória e significativa. Percebe-se, inclusive, que os dados são bastante inconsistentes, o que torna as informações praticamente inúteis.
Com uma coleta extensiva de dados confiáveis e com tecnologias avançadas sendo efetivamente aplicadas, pode-se planejar, por exemplo, o envio de respiradores e/ou profissionais de saúde para cidades que irão efetivamente precisar deles daqui a 2 semanas, evitando que equipamentos caros e profissionais raros fiquem ociosos por estarem no lugar errado enquanto pessoas morrem.
Franquia? Todo cuidado é pouco!
Confira algumas dicas para não cair em golpes
O Brasil passa por um momento econômico delicado e o desemprego é um fantasma que ronda a cama de muitos executivos das classes média e média-alta.
Quando uma demissão acontece de surpresa, uma alternativa interessante para quem recebe uma rescisão polpuda – ou para quem fez um “pé-de-meia” durante alguns anos – é abrir um negócio próprio. Se a pessoa nunca teve experiência como empreendedor, uma franquia soa como uma excelente opção.
Cuidado!!!
Essa é a hora que um sonho pode se tornar rapidamente em um pesadelo.
Porque infelizmente, o mercado está repleto de armadilhas e de estelionatários que descobriram, no modelo de franquia, uma forma de fazer dinheiro fácil.
O golpe é bem simples de aplicar: encontre alguém que está com dinheiro em caixa, venda um sonho reluzente, pegue o dinheiro e deixe o otário a ver navios.
Parece exagero, mas há franquias especializadas em aplicar esse tipo de golpe.
Vender uma franquia é relativamente fácil, porque tudo acontece no papel. Basta apresentar uma proposta sexy, uma loja encantadora, produtos de primeira qualidade, planilhas de Excel que mostrem que a pessoa rapidamente atingirá o “break-even” e prometer que estará sempre lá para apoiar a vítima, digo, o franqueado, com a sua “experiência”.
“É uma cilada, Bino!”
Assisti a essa novela ao acompanhar uma amiga que decidiu abrir uma cafeteria. Encantou-se com uma proposta realmente bonita, e investiu numa franquia tudo que tinha economizado na vida.
Como o sonho vendido era de uma cafeteria elegante, fizeram-na comprar equipamentos [desnecessariamente] caríssimos e obrigaram-na a contratar uma arquiteta “parceira” que entregou um projeto “copy-paste” com inúmeros erros bastantes graves de arquitetura. Minha amiga também foi induzida a contratar uma empreiteira que, além de cobrar um valor exorbitante para reformar o imóvel que ela alugou, deixou a loja inacabada e com as partes entregues literalmente “desmontando”. Ela precisou contratar outra empresa para finalizar a obra e até hoje precisa “remendar” o projeto que pagou a peso de ouro, porque dentre outros problemas, a loja alagava quando chovia!
Mas o sofrimento não acaba com a parte civil. Foi durante o “treinamento” para a equipe que ela descobriu que os franqueadores não entendiam nada do negócio que eles vendiam. Um dos sócios (a empresa eram somente 2 irmãos) não conseguia acertar o ponto de um bolo. O outro fazia previsões teóricas que nunca se concretizaram. Pudera! Eles não possuíam uma loja sequer. Nunca tinham tido uma cafeteria, dá pra acreditar?!
A esse ponto, a cilada já ficava clara. Ela não recebeu nenhum material de marketing, e descobriu, tardiamente, que a empresa não fazia investimento algum em marketing e divulgação. O único negócio da empresa era vender franquias!
Oh, céus! Como me protejo disso?!
É importante fazer um trabalho minucioso de estudo de uma franquia antes de embarcar nessa aventura.
- Pesquise o histórico dos franqueadores
O modelo de negócio precisa ser comprovado. JAMAIS compre uma franquia de alguém que não passou ALGUMAS VEZES pela experiência que você irá passar. Se for para desbravar todo o território, desenvolver produtos, desenvolver material e estratégias para divulgar sua loja, criar processos de trabalho (como minha amiga precisou fazer), então você não precisa pagar para ninguém. Uma franquia deve oferecer tudo isso, e você deve se sentir seguro que os franqueadores têm experiência e competência para entregar essas promessas. Lembre-se também de fazer buscas na Internet (e em redes sociais) para levantar informações sobre os indivíduos com os quais você estabelecerá uma relação que, a princípio, deverá ser duradoura. Consulte currículos online para ver se a franquia realmente possui profissionais capacitados. - Converse com outros franqueados
Visite outras unidades da franquia. Normalmente, franqueados se ajudam e trocam muitas informações entre si, portanto costumam ser bastante prestativos. Converse com os proprietários e jamais aceite fazer isso na presença do franqueador. Se um franqueador sugerir isso, DESCONFIE. Se o franqueador não quer que você fale direta e livremente com seus franqueados, é porque ele tem coisas para esconder de você e não quer que eles contem. - Seja cliente assíduo da franquia
ANTES de pensar em adquirir uma franquia, frequente-a. Confira como você é tratado como cliente. É esse o atendimento que você vai querer prestar a seus clientes no futuro? A experiência que você teve é a que você quer oferecer?
Conviver alguns dias como cliente permitirá entender um pouco da dinâmica do negócio, entender o fluxo, processos, horários de pico, fazer uma projeção aproximada de faturamento, tamanho da equipe necessária, treinamento, etc. - Leia a COF (Circular de Oferta de Franquia)
A lei de franquias no Brasil é bastante flexível. Na prática, o que vale é o que está escrito na COF, que é o documento que rege a relação entre franqueador e franqueado. Esse documento não está escrito na pedra. Se você não concorda com algum item, proponha uma alteração. Negocie valores para taxa de franquia, royalties, taxa de marketing. Muitas franquias oferecem carência dos royalties nos primeiros meses, nos quais seu faturamento provavelmente será menor do que os custos e seu fluxo de caixa estará mais comprometido. Desconfie, porém, se o franqueador começar a fazer muitas concessões para fechar negócio. Se a franquia está mais interessada em receber dinheiro rapidamente do que em ajudar você a ganhar no longo prazo, isso é um péssimo indicador. - Consulte a ABF (Associação Brasileira de Franchising)
A ABF é uma entidade sem fins lucrativos que busca desenvolver o sistema de franquias no Brasil. Franquias consolidadas associam-se à ABF e se comprometem a seguir as diretrizes da associação, além de participar de conferências, simpósios, seminários, palestras, cursos e encontros de formação técnica sobre o Franchising.
Você pode consultar a lista de associados da ABF neste link.
Sempre funciona?
Empreender é assumir riscos. Significa que você pode vir a ganhar bem mais do que o salário que tinha, ter liberdade para fazer coisas do seu jeito, ter mais flexibilidade de horários, etc.
Por outro lado, pode significar também que suas economias de muito tempo virem pó.
Em resumo, qualquer um que afirmar que empreendendo você terá sucesso estará sendo leviano. Empreender é um eterno “talvez”.
Por melhor que você tenha escolhido a franquia para fazer parte, é sua responsabilidade gerenciar o negócio de forma que ele seja de fato lucrativo. O apoio sério, competente e profissional de uma franquia não fará que o dinheiro comece a brotar em seu caixa sem esforço. Ainda que você esteja usufruindo de um modelo de negócio validado e estruturado, a operação de sua unidade depende de você.
Conclusão
Uma franquia pode ser uma ótima opção para você começar a empreender. É justo pagar para usufruir a experiência de alguém e não precisar cometer erros e fazer ajustes que alguém já realizou.
Por outro lado, se você está pagando por um produto ou serviço, também é justo que isto lhe seja entregue!
As dicas aqui compartilhadas visam somente alertar as pessoas para que elas não caiam em “contos de vigários” como eu vi acontecer. Felizmente, minha amiga é uma pessoa dinâmica, experiente e competente (leia-se guerreira) e conseguiu desvencilhar-se da franquia e agora está tocando seu negócio próprio. O café agora chama-se Coffee Lounge e fica na região da Vila Olímpia.
Se eu vou mencionar o nome da franquia? Claro que sim, afinal, o objetivo de contar histórias aqui no blog é que as pessoas fiquem informadas!
Chama-se Coffeetown.
Nota: Minha empresa, Desquebre, fica sediada dentro da cafeteria mencionada. Se quiser parar para tomar um café e bater um papo, é só chamar. Aliás, recomendo experimentar o brownie e o moccacino! 😉 😉
IoT 0.5 – Uma proposta para pavimentar o caminho para a Internet das Coisas
Quem nunca ouviu dizer que as coisas acontecem muito rápido na Internet?
Pois bem, isso vale para postagens em redes sociais, notícias ou comunicação instantânea, mas quando a mudança é mais estrutural, as coisas não andam tão rápido assim. Falando em “coisas”, aliás, essa discussão é sobre elas – as “coisas” que deveriam estar na Internet.
A Internet das Coisas
Há cerca de 10 anos o termo “Internet das Coisas” já era apresentado em slides de palestras descoladas, que anunciavam a chegada da hiperconectividade para a a semana seguinte. Só que as “coisas” não se conectaram tão rápido assim.
Um exemplo clássico à época era falar da “geladeira conectada”. Ela saberia o que tem dentro dela, avisaria quando algum suprimento está acabando e até aprenderia sobre seus hábitos de consumo. É bem verdade que uma coisa essas palestras deixaram claro: falar é muito mais fácil do que fazer acontecer. O PowerPoint aceita tudo, e sempre vai ter uma imagem impressionante na Internet pra fazer parecer que estamos a um passo do futuro.
A realidade? A realidade é que fazer as coisas dá trabalho. E não citei a geladeira à toa. Nos últimos 5 anos, venho trabalhando numa iniciativa para ajudar as pessoas a consertarem seus equipamentos domésticos, dentre eles… geladeiras!
Apesar de estar inserido nesse mercado, nunca vi uma geladeira conectada em minhas andanças. Então comecei a me questionar: “E eu? O que EU posso fazer para ajudar o mercado a dar um passo rumo à tal Internet das Coisas”?
IoT – um discurso que vende
Uma forma interessante de introduzir tecnologia no mercado seria agregar algum conhecimento sobre hardware (“eletrônica”) com conhecimento sobre redes e programação de computadores. Esses são os elementos para quem fala sobre “IoT” (ou “Internet of Things”, ou “Internet das Coisas” em tupiniquim mais claro) conceber soluções realmente impressionantes.
E basta falar a palavrinha mágica para que as pessoas se interessem. Não é raro ver startups falando em IoT, Inteligência Artificial e diversos outros jargões da moda para impressionarem potenciais investidores ou, pelo menos, dar uma inflada no ego ao impressionar um leigo. Entregar, que é bom…
Mas afinal, que raios é isso?
O conceito de IoT é simples, interessante e poderoso. Se colocarmos sistemas eletrônicos nos equipamentos que utilizamos, como sensores, painéis de interface e circuitos para comunicação com a Internet, podemos criar soluções tão interessantes quanto as palestras de 10 anos atrás. Não para que a geladeira descubra nossa marca de cerveja preferida (ainda), mas para algumas atividades mais simples, porém úteis e bem-vindas.
Na mercado em que estou atuando (manutenção de equipamentos de linha branca), algumas possibilidades são bem interessantes:
- Sensores podem detectar falhas no equipamento e acionar a assistência técnica;
- Sensores podem monitorar o funcionamento do aparelho, contabilizando inclusive o tempo e a carga à qual o equipamento está sujeito, de forma a sugerir manutenções preventivas que evitem que falhas ocorram. Estas ações podem ir da limpeza de filtros do ar-condicionado à troca de um componente que começa a apresentar um comportamento fora do padrão devido ao desgaste;
- As informações colhidas pelos sensores podem ser apresentadas ao usuário através de um painel de interface, para que alguma ação seja tomada;
- O usuário pode interagir com o equipamento, seja via painel de interface ou via acesso remoto – utilizando, por exemplo, um aplicativo para verificar se o ar-condicionado ficou ligado e desligá-lo mesmo estando longe de casa.
As possibilidades são inúmeras, e tenho certeza que você que está lendo já teve umas duas ou três ideias para usar uma “coisa” conectada.
Vende, mas entrega?
Bem… ao chegar em casa, contabilize quantos equipamentos você tem que permitem esse tipo de interação e responda você mesmo. Felizes aqueles que compraram um Google Home ou um Amazon Echo para sentirem-se com um pé no futuro nessa hora!
A implantação de um parque conectado está levando bem mais tempo do que as previsões das palestras. O custo envolvido é elevado, e o retorno para o consumidor ainda não é tão claro. Os “early adopters” da linha de cima ainda têm um árduo trabalho de convencimento de seus amigos para que o valor de IoT seja realmente algo que se possa considerar popular.
Assim como tantas outras tecnologias que foram prometidas, IoT ainda não está sendo entregue na mesma proporção que está sendo vendida.
IoT 0.5
É nesse cenário que, junto com o pessoal do Desquebre, cunhamos o termo “IoT 0.5”. É uma via intermediária entre equipamentos desconectados e equipamentos 100% conectados (IoT efetivo).
Para que o conceito fique claro, vou precisar explicar rapidamente o que é o Desquebre, projeto que mencionei lá no início. Trata-se de um sistema para ajudar as pessoas a consertarem seus equipamentos, através de um aplicativo (ou site) que fornece dicas para realizar consertos simples. Um exemplo: às vezes uma lavadora pode parar de funcionar só porque foi deslocada durante a limpeza da área de serviço, e ao ser empurrada de volta, a mangueira da água pode ter sido dobrada. Uma mera verificação desse item pode economizar muito tempo buscando assistência profissional, bem como poupar dinheiro e evitar transtornos ou dores de cabeça.
Nesse sistema, o usuário informa qual produto quebrou e os sintomas do defeito verificado. Após consultar as dicas, ele pode solicitar um técnico.
Você reparou que, nesse caso, o usuário de nosso sistema está fazendo o papel dos sensores e dos microprocessadores que estariam instalados num aparelho conectado? Afinal, um sensor detectaria a falha e enviaria a informação a um servidor na Internet, que é exatamente o que a pessoa está fazendo, de forma analógica e talvez não tão precisa, mas já é uma maneira muito interessante de ter dados sobre o que acontece no parque instalado. Como o celular que está sendo usado hoje é um computador completo (e conectado), dados como horário do problema, temperatura ambiente e posição geográfica também podem ser registrados. Um aparelho que nunca sonhou em ser uma “coisa da Internet” começa a ser monitorado da mesma forma que serão seus sucessores mais modernos.
Com essa iniciativa, usuários podem começar a notar os benefícios que IoT pode trazer, fornecedores podem começar a desfrutar das vantagens da coleta de dados sobre seus produtos e o “relacionamento” com nossos equipamentos começa a ficar mais moderno e eficiente.
Em resumo, você pode começar a usufruir das benesses do discurso sobre IoT hoje mesmo, participando do processo de conexão de seu equipamento à Internet através de uma tecnologia simples e sem ter que gastar dinheiro para isso.
Se você achou o conceito interessante, você também pode ajudar o mercado a adotar essa tecnologia, passando adiante essa mensagem e – porque não – dando uma dica antenada para seu amigo que está com um equipamento quebrado: aconselhe a experimentar o Desquebre! 😉
Por que não quero ser Uber
Calma. Não estou falando em “ser Uber” no sentido de inscrever-me como motorista. Estou falando em fundar uma empresa que “se transforme num Uber”.
Sei que esse é o sonho de muita gente. Um sonho fácil de entender, porque muita gente cresceu com o sonho de ganhar na loteria, e provavelmente interpretem as duas coisas de forma muito parecidas: passar a ter uma montanha de dinheiro à disposição de uma hora para a outra.
Nem vou entrar no mérito de quanto as pessoas se iludem em relação às probabilidades disso acontecer (são bem parecidas entre a loteria e “virar um Uber”) e muito menos discutir o quanto isso não acontece de uma hora para a outra (no segundo caso).
O que quero pontuar aqui é que não me interessa chegar nesse destino. Muitos dirão: “Luciano, você é louco? Você não gostaria de ser bilionário???”. A resposta é “Não”.
Não faz sentido, pra mim, ser bilionário. Eu não teria como usufruir de tanto dinheiro durante o que me resta de vida (e não é por conta da minha meia-idade: isso vale também para quem ainda está entrando na adolescência). Não há como usufruir de bilhões sem ser por motivos tão gananciosos que cheguem a ser fúteis. Para mim, isso não interessa.
Nem mesmo a máscara de “bonzinho” que alguns bilionários tentam vestir me deslumbra. Porque acumular quantias exorbitantes de dinheiro para depois decidir, monocraticamente, como “reverter isso para a sociedade”, é coisa de quem convive com problemas internos tão gigantes quanto o próprio ego. E mais uma vez, para não fugir do tema, não vou entrar no mérito do quão hipócrita são essas “caridades”…
O custo de “virar um Uber”, face aos meus valores pessoais, é muito alto. Uma empresa assim inevitavelmente terá acionistas: investidores especuladores interessados nos dividendos que a empresa distribui e na exploração das variações das ações (tanto faz se para mais ou para menos). Afinal, o compromisso dos acionistas não é com a empresa, mas com o lucro especulativo das suas transações, que são vantajosas não só quando a ação sobe (realização de lucro), mas também quando ela desce (recompra conveniente).
E quando o lucro começa a pautar a empresa, ela se torna desumana. Ela perde o sentido que lhe deu vida. Espero não ter leitores maniqueístas que interpretem isso (erroneamente) como “O Luciano é contra o lucro”. É óbvio que, como alguém que está construindo uma empresa, eu busco lucro. O que não se pode confundir é “buscar o lucro” com “o lucro ser a razão de existir”. Por mais que a grande maioria dos empresários, investidores e especuladores negue, o lucro é o que pauta as ações dessa maioria. Procure no Google por “Ford Pinto case” e você verá do que estou falando…
É triste ver empresas que crescem a ponto de perderem sua essência. Empresas que até podem ter começado pensando em seus clientes, mas que quando atingem a prosperidade, passam a buscar crescimento de forma irracional. Correm atrás de números pelos números, como pessoas viciadas em jogos ou drogas, que querem ganhar ou consumir sempre mais, mais, mais, mais…
É nesse ponto que as ações começam a divergir das palavras da empresa. Empresas que declaram a famigerada tríade “missão, visão, valores” (sic) no papel, nos treinamentos e nos vídeos corporativos, que colocam em seus lemas coisas como “foco no cliente” (“Feito para você”, anyone?), mas entre lucro e cliente, não titubeiam em ficar com o primeiro.
Mais triste ainda é ver que o topo da pirâmide a contamina completamente, a ponto das pessoas da base repetirem o discurso e operacionalizarem as técnicas da empresa de forma tão mecânica quanto robôs. A razão desse comportamento tem origem similar: por mais que os funcionários de grandes corporações declarem nas redes sociais que adoram seus trabalhos, eles só estão lá pelo salário e pelo bônus. A prova disso é o culto à sexta-feira e o desespero para que chegue um feriado.
Eu espero que minha empresa cresça. Eu espero que dê lucro. Bastante. Eu só desejo, de coração, que esse lucro proporcione uma vida confortável e saudável a mim e àqueles que estiverem comigo no barco, mas que ele não seja, jamais, a razão de existirmos.
Quero ser grande. Não quero ser Uber.
Membro Embaixador do Campus São Paulo – a Google space
Ontem, 20/10/2016, foi um dia especial para mim.
Após cerca de 4 meses de convívio com esse espaço incrível que é o Campus São Paulo, fui agraciado com uma surpresa que me deixou muito honrado: o título de “Membro Embaixador” do Campus São Paulo – a Google space.
Este reconhecimento já me deixou muito feliz, mas minha satisfação foi muito além do título em si. Olhar para o lado e ver uma dezena de embaixadores também apaixonados pelo conceito do Campus, sentir o espírito colaborativo de cada um deles, o brilho nos olhos e a vontade de fazer do Campus um lugar cada vez melhor – com a mesma paixão com que arrumamos nossa casa para receber amigos – é algo que não tem preço!
Fazer parte disso é uma honra. Ser recebido pela fantástica equipe que compõe o Campus e receber o carinho de cada um deles é um presente muito generoso que essas pessoas especiais nos proporcionaram.
Estou mais motivado do que nunca para falar sobre o Campus, mas hoje quero celebrar algo ainda mais especial: o fato de ver, finalmente, uma gigante de tecnologia mostrar que entendeu o espírito de Comunidade. O Campus já é uma expressão dessa visão acertada e genuína, mas o projeto de Membros Embaixadores estabelece um novo padrão na relação entre empresas e Comunidade. O time do Campus foi brilhante no conteúdo e na forma:
- Reconhecimento “now that”
De acordo com Daniel Pink, o ser humano só desenvolve soluções criativas quando motivado de forma intrínseca. Ao contrário dos processos clássicos de motivação extrínseca (adotado pela esmagadora maioria das tentativas de motivar pessoas), que utiliza o modelo “if-then”, ou seja, “se você fizer isso, eu te dou aquilo”, o modelo “now that” – que visa a motivação intrínseca – reconhece um resultado após ele ter sido realizado. Se alguém realiza algo sem uma “cenoura” na frente, com certeza essa pessoa já está motivada (de forma intrínseca), mas quando esse tipo de reconhecimento chega (sem aviso prévio e sem nenhum “cumprimento formal de promessa”), a motivação é extremamente potencializada.
Adivinhem se os Membors Embaixadores não estão com o medidor de motivação em 100% e mais um pouco… rs rs rs - Obrigado. Gostaríamos que vocês continuassem fazendo o que já fazem
Isso foi emocionante. Ouvir isso do time do Campus mostra que eles realmente estão 100% sintonizados com a Comunidade. Participam dela, convivem com as pessoas no dia-a-dia, conhecem os membros ativos pelo nome e por suas qualidades (e defeitos – alguns costumam esquecer o crachá, por exemplo… rs rs rs).
Mais do que a participação ativa e genuína – coisa que está no sangue dos Googlers que gerenciam o Campus – a empresa mostra um profundo conhecimento e respeito pela dinâmica da Comunidade: não pediu nada em troca. Não colocou metas, receitas de bolo ou diretrizes para honrar o título de Membro Embaixador. “Só gostaríamos que vocês continuassem fazendo o que já fazem“. O peso (positivo) dessa frase é incrível. Ela carrega não só reconhecimento, mas é uma demonstração de confiança excepcional (e bastante rara no mundo corporativo). É como dizer: “Nós acreditamos naquilo que vocês acreditam. Nós confiamos nas ideias de vocês, e temos tanta certeza que vocês fazem coisas pelo Campus por paixão e de forma genuína, que estamos deixando vocês livres para fazerem o que vocês acham que é certo. NÓS CONFIAMOS EM VOCÊS“.
Cá entre nós… você que tem uma relação de funcionário com sua empresa, quando foi a última vez que você ouviu isso de forma verdadeira? E que outra empresa diz isso para alguém que não tem nenhuma relação formal com ela? Pois é… o Google sempre levando os padrões para níveis mais altos…
- Sem benefícios materiais pomposos
Sim, você leu certo. Achei FANTÁSTICO que não tenha havido benefícios materiais de grande calibre. Nada de gadgets caros ou qualquer outro presente invejável que pudesse desviar a motivação intrínseca para algo extrínseco. Sim, rolou um “pin” lindo para colocar no crachá, um caderno tipo Moleskine de muito bom gosto (e de papel reciclado), uma camiseta, uma caneta e adesivos. Mimos para agradar sem extravagância. E isso foi simplesmente PERFEITO! Porque ponho minha mão no fogo que nenhum Membro Embaixador fez nada do que fez, ou fará alguma coisa no futuro, visando algum benefício material. Simplesmente não é essa a “pegada” de quem atua em Comunidade. Quem estimula a Comunidade através de presentes caros não entendeu absolutamente NADA de Comunidade. Voltando a Dan Pink, Comunidade é “now that”. Presente caro é “if-then”. - Mi casa, su casa
Acredito que todo Membro Embaixador já considere o Campus São Paulo uma extensão da sua casa. Ontem o time do Campus foi além. Chamaram-nos para dentro da casa deles, ou seja, nos levaram para o seu escritório, aonde o pessoal coloca as fotos da família, para nos agraciar com o título. Fizeram com que nos sentíssemos ainda mais em casa. Fizeram-nos sentir – ainda mais – parte do Campus. E para quem não ainda não conhece o Campus, eu faço questão de apresentar. Afinal, “mi casa, su casa”. - Escolhas com muito “feeling”
Aqui vou falar dos outros Membros Embaixadores. Conhecia alguns, outros já tinha visto, outros nem conhecia. A prova cabal que eu estava envolto de gente com espírito de Comunidade veio quando a “Ká”, ao agradecer pelo reconhecimento, já começou a pensar nas pessoas da Comunidade que não receberam o título. Ela se preocupou em analisar como se comportar para que ninguém se sentisse excluído, para garantir que essas pessoas vejam nesse título muito mais uma motivação do que um não-reconhecimento por quem eventualmente não o obteve. Eu achei INCRÍVEL. Era o dia de celebração da pessoa, mas ela continua pensando nos outros. Tem como imprimir mais “Kás” em impressora 3D, por favor?!
Como vocês perceberam, o Campus São Paulo é um espaço com muitas surpresas. A magia do local é tão grande que não caberia num post, então prometo que vou retomar o assunto com frequência para compartilhar o máximo que eu puder sobre esse projeto maravilhoso que é o Campus.
Estou muito feliz e honrado.
À equipe do Campus, MUITO OBRIGADO!!! 🙂 🙂 🙂
Volta, Lego!
Achei maravilhosa essa mensagem da Lego dos anos 70.
Vou aproveitar o embalo para contar uma história rápida que aconteceu hoje.
Fui a um evento e perto de onde sentei havia um garoto com sua mãe. Uns 5 anos, imagino. Estava com muitos Legos para bricar durante o evento (e se comportou super bem).
Não resisti (não resisto a crianças, em especial as bem educadas) e fui brincar com ele. Achei o máximo o fato dele logo oferecer seus Legos para o “tiozinho” aqui. Perguntei o que ele iria fazer, e ele logo respondeu: Um robô! Lancei o desafio de quem faria o maior robô.
Claro que o dele ficou maior e muito mais bonito do que o meu.
A única parte da história que lamentei foi que enquanto eu procurava peças para fazer alguma coisa minimamente parecida com um robô humanóide, o garoto procurava as peças “certas”, peças “especializadas” (braço, perna, cabeça, etc), para montar o robô pré-estabelecido pelas peças que devem ter vindo numa caixa específica de um robô de Lego.
Fiquei pensando se a Lego perdeu sua essência.
Como crianças vão criar algo se a “resposta certa” já está definida? Afinal, o mais bonito do (antigo) Lego é isso: as peças quadradas não são nada sozinhas e podem ser qualquer coisa juntas!
Por menos Legos com “peças prontas”. Por um mundo mais simples, com peças simples, e muito mais liberdade para criar, fantasiar, enfim, SER CRIANÇA!
Google I/O 2016
Este ano consegui realizar algo que há tempos desejava muito: participar de um Google I/O.
As expectativas mal cabiam na mala. Lá vamos nós para a Califórnia, San Francisco Bay Area, Vale do Silício…
Prólogo
Eu ainda não conhecia o Vale. Fiquei impressionado com a região!
Só como exemplo, visitei a “California Academy of Science” e os monitores do local davam um show de conhecimento e didática. O que achei muito diferente, porém, estava do outro lado. Um público extremamente interessado no conhecimento, acompanhando as explicações (nada superficiais), entendendo tudo e fazendo perguntas inteligentes.
Isso me fez lembrar do que presencio no museu “Catavento” recorrentemente (e que me deixa muito triste). Pais que levam as crianças lá como se fosse um playground. Ao invés de ler e explicar as experiências para os filhos, os deixam rodar as manivelas de forma bem pouco cuidadosa, colocando em risco não só o próprio filho, mas também a instalação do museu. Conhecimento adquirido? O mesmo de rodar um registro de água na rua…
O material humano do Vale do Silício é realmente de primeira linha. Não dá vontade de voltar, ainda mais considerando o atual momento de irracionalidade do Brasil.
O evento
Gostei do keynote. O Google apresentou o “Google Assistant“, que se propõe a utilizar toda a inteligência que a empresa tem em seu motor de busca para ajudar as pessoas a realizar atividades do dia a dia. Onde ele se diferencia do Siri ou do Cortana? Ele tem o Google por trás. Aquilo que todo mundo faz, de sacar o celular e pesquisar no Google o termo ou a informação que surgiram na discussão, o Google Assistant faz para você, com velocidade e conforto.
O “Google Home” também vai além do “echo” da Amazon. Ele é a versão em hardware do Google Assistant, e sua proposta é a integração com toda a sua casa. Nos stands do evento, foram demonstradas muitas soluções de automação residencial que podem ser controladas, por voz, através do Google Home.
“Allo” vem para incomodar o Whatsapp. Muita inteligência artificial por trás dele, para que você, além de conversar com seus amigos, tenha sempre o motor do Google Assistant para ajudar durante a conversa, como um “concierge” de informações. Boa proposta, mas que vai enfrentar um degrau bastante alto para conquistar o mercado de troca de mensagens. Por outro lado, o nome Google deve ajudar.
O Android “N” não chegou a trazer novidades radicais, mas arrancou de todos uma expressão de alívio com o anúncio do fim daquele momento “otimizando aplicativo 3/96” quando você precisa usar o telefone…
Meu prognóstico para o nome? Nutella, claro!!!
Outra coisa que gostei muito foi o anúncio das “Instant Apps“. Com esse recurso, você não precisa instalar a aplicação para utilizá-la. Somente os componentes necessários são automaticamente baixados, sem a necessidade do processo de instalação. Esse recurso me fez até pensar em migrar o DESQUEBRE, que é uma aplicação híbrida, para nativa, pois ela se encaixa perfeitamente nesse conceito.
As sessões? Falarei mais tarde sobre as sessões…
A mudança
A mudança mais radical do evento foi o local. Do tradicional Moscone Center em San Francisco para o Shoreline Amphitheatre em Mountain View. O evento passou a ser ao ar livre, num clima de festival. Houve shows e música à noite, em instalações que davam um ar de “rave” ao evento.
Apesar de muito bem-vinda no conceito, essa mudança trouxe alguns problemas. Após o keynote, formaram-se filas muito, mas muito grandes para assistir às sessões. E o sol estava castigando. Os bebedouros secaram. E muita gente ficava para fora porque as salas, subdimensionadas, lotavam rapidamente. Isso impossibilitou assistir mais do que 2 ou 3 sessões por dia, o que foi um ponto extremamente negativo do evento. Frustrante, eu diria.
As sessões
Pois então. Não pude entrar em muitas, por conta das filas. Estava super ansioso para me atualizar sobre o Design Sprint e saber como ele vem sendo aplicado, mas somente quem passou muito tempo ao sol quente, na fila, conseguiu essa proeza.
Das poucas sessões que consegui assistir, o que achei interessante foi o enfoque no Firebase como solução para criar aplicativos de forma simples e rápida. O modelo “real-time” do banco de dados do Firebase é realmente interessante, e para quem quer desenvolver uma solução de chat, por exemplo, é “killer”.
Também não consegui fazer “Code Labs” porque… tinha que ficar em alguma fila se quisesse assistir alguma sessão. O Google precisa rever completamente essa questão, pois esse fator prejudicou demais o evento e seus participantes.
O networking
Fantástico. Conversei com muita gente boa sobre uma proposta que pretendemos trazer através do Google Business Group São Paulo: o Startup Journey. Vale acompanhar o meetup do GBG São Paulo se você se interessa pelo tema.
Além disso, deu para conhecer algumas pessoas e rever muitas outras, porque a um certo ponto, a galera acabava desistindo de ficar nas filas e preferia investir o tempo em socialização e networking.
A cereja [faltando] no bolo
Uma tradição do Google I/O é a distribuição de gadgets para os participantes. Ao decidir se investia ou não na minha ida ao I/O (em fase de grana curta e estabelecimento de uma empresa), o argumento de um amigo me motivou: “você recupera a grana do ingresso só pelos gadgets que eles dão”.
Pois bem… este foi o primeiro ano de Google I/O sem brindes!
Como tuitei na hora que fiquei sabendo disso: o Google I/O virou Google “o-oh”. Nada de brindes. Ninguém foi para lá só por causa dos brindes, mas todo mundo tinha essa expectativa. Grande frustração.
Epílogo
O evento foi bom, mas bastante decepcionante para mim.
Esperava conseguir participar das sessões que tinha me planejado antecipadamente e esperava conseguir absorver mais informações e conhecimento.
O sol escaldante do primeiro dia e o frio congelante do último nos expuseram a um “desafio de sobrevivência” e trouxeram desconforto e dificuldades para tirar proveito do evento.
A menos que o Google demonstre de forma muito taxativa que os problemas de logística serão resolvidos nas próximas edições, não consigo me entusiasmar em realizar o investimento necessário para participar novamente de um evento desse (os custos no Vale são muito altos), nem recomendar para meus amigos que o façam.
Não se iluda com a Inovação
Antes de começar meu raciocínio, gostaria de contextualizar o autor desse post.
Sou engenheiro convicto. Daquele que já sabia que seria engenheiro desde os 10 anos, ou até antes. Sempre quis entender como as coisas funcionavam, dos objetos da casa às invenções impossíveis dos desenhos animados (e sim, eu me desesperava em pensar quem iria arrumar a bagunca que o Jerry Lewis fazia em seus filmes…)
A Física, a Matemática e a Engenharia me entusiasmavam porque conseguiam modelar o mundo real através de suas fórmulas (eu odiava o “despreze os atritos” dos enunciados – aquilo não era real!).
Conviver com todas essas fórmulas me fez entender que os fenômenos da natureza são analógicos e seguem curvas contínuas. Nenhuma mudança é instantânea. Se parecer, é porque a amostragem foi lenta demais.
Para mim, uma das coisas mais excitantes e “mind blowing” foi descobrir as séries e entender a decomposição de sinais em suas harmônicas. É revolucionário descobrir que um pulso não existe como o imaginamos. Nada vai de 0 a 5 Volts imediatamente. A tensão passa por todos os valores (ainda que passe muito rapidamente pelos valores entre 0,01V e 4,99V) e mais: a tensão não consegue parar imediatamente em 5 Volts. Ou colocamos um capacitor para “suavizar” essa chegada aos 5 Volts, ou teremos um pico maior do que 5 Volts, depois voltaremos para um pouco menos do que 5, depois um pouquinho mais, até estabilizar em 5V…
Toda essa teoria pode soar chata para muitos, mas é muito mais reveladora do que parece. Isso vale para a natureza, não só para circuitos eletrônicos!
E o que isso tem a ver com Inovação?
Na realidade, o comportamento da tensão em um pulso tem grande analogia com a curva de adoção de inovações tecnológicas!
Dê uma olhada no gráfico abaixo, que representa o “Gartner Hype Cycle“. Você não vê uma semelhança?
Essa curva é genérica (assim como a curva acima) e suas intensidades e valores absolutos podem variar de acordo com a tecnologia ou produto sendo introduzidos no mercado, com fatores econômicos externos ou com inúmeras outras variáveis.
É muito comum, porém que o padrão da curva seja observado.
OK, e eu com isso?
Quem está buscando introduzir alguma inovação no mercado deve entender essa curva, porque ao planejar algo inovador, é necessário fazer previsões sobre a adoção de seu produto ou serviço. Quanto melhores suas previsões, maior será seu sucesso (se as coisas saírem melhores do que você previu, não será mérito seu: terá sido sorte!).
O problema é que muita gente se excita com a evolução da primeira parte da curva. Há quem acredite que esse crescimento será para sempre, ou que a curva se estabilizará num valor próximo ao seu pico. E é aí que muitos quebram a cara! Lembro, nos meados dos anos 90, de projeções para o crescimento da Internet. O pessoal simplesmente projetava uma parábola com base no começo da curva. De acordo com alguns “especialistas”, há uns 10 anos já deveríamos ter um número praticamente infinito de pessoas conectadas à Internet…
O bom empreendedor tem que ter um faro aguçado para antecipar ao máximo o que vai acontecer. Ele tem que ser capaz de “enxergar além do que os outros enxergam”. Claro que ele também terá que reagir às mudanças que ocorrerão, mas isso é simplesmente uma questão de fazer de novo algo que ele já aprendeu a fazer bem: analisar as variáveis e projetar bem as curvas – ainda que tenha que fazer isso recorrentemente!
E como uso essas curvas?
As curvas mostradas nesse post são conceituais, portanto não trazem valores absolutos. Só você será capaz de projetar a curva de adoção para seu negócio (ou talvez um concorrente direto seu, mas nesse caso, é bom que você seja melhor do que ele nisso…).
É importante ter consciência que existe um pico do “hype”. As vendas de iPhone estouram a cada lançamento, mas 3 ou 4 semanas depois, elas não mantém o mesmo ritmo. Já imaginou se os analistas da Apple não conhecessem este “fenômeno” e projetassem suas vendas com uma curva de crescimento simples? Imaginem quanto eles errariam nas projeções de investimento em produção, marketing, logística, etc, na hora que se deparassem com uma realidade assim?
Inovar é bom, mas como tudo na vida, o preparo é o melhor tempero para o sucesso. Estudar disciplinas como Física e Matemática é fundamental para ter sucesso no mundo da tecnologia. Porque para ter ideias inovadoras é necessário ter criatividade e motivação, mas para fazer as mudanças acontecerem, é preciso muito estudo, muito preparo, muita análise e, acima de tudo, muito trabalho. Como trabalhar cansa, utilize tudo aquilo que você aprendeu em seus estudos para que esse trabalho não seja em vão. Não se deixe iludir pelo brilho da curva inicial de adoção de seu produto. Lembre-se que você tem que colocar na conta os porcentuais de expectativas infladas, o porcentual de desilusão, o porcentual de persistência para buscar o esclarecimento (“enlightenment”) e o tempo para atingir o platô de produtividade. Prepare-se para cada um desses momentos. Reaja sempre da melhor forma, divulgando na hora de divulgar, ajustando as expectativas (inclusive as suas) quando necessário, comunicando muito bem para não perder clientes desiludidos, ajustando seu produto para não causar frustração.
E tenha sempre em mente que não é nada pessoal. Grandes empresas passam por esses ciclos. Os pessoal que hoje está no pedestal (Uber, Airbnb, Netflix, Nubank, Alibaba, etc) logo entrará na fase de ajustar expectativas infladas. Só para dar um exemplo: tem muita gente com a expectativa que o Uber vai continuar oferecendo serviços melhores, motoristas poliglotas, educados e cheirosos, brindes, mimos e um preço mais baixo para sempre. Quem calcula ROI com a amostra grátis inevitavelmente se frustrará ali adiante.
É claro que isso não significa que o Uber está fadado a “morrer”, como jornalistas adoram escrever. Só significa o que qualquer profissional preparado para o mercado tem que saber: que o platô de produtividade do Uber não é no pico de expectativa inflada, mas no fim da ladeira do esclarecimento. E a história se repetirá para você.
Minha conclusão? Estude muito bem suas curvas e boa viagem! 😉
Carta aberta de um brasileiro a Mark Manson
Caro Mark,
Obrigado por tomar seu tempo para nos escrever uma carta. É verdade que fico um pouco decepcionado ao ler, no final, que você teve que pagar para alguém traduzir sua carta mesmo tendo morado 4 anos aqui (muita gente que mora menos tempo em outro país consegue escrever uma carta na língua local, mas isso não vem ao caso…).
O que gostaria de dizer é que tudo o que você escreveu em sua carta já era discutido em minha roda de amigos há mais de 30 anos. Sua carta não traz nada que não estivesse presente, já àquela época (e muito provavelmente antes disso também) nas discussões de jovens brasileiros de 14 anos. Se você achou que descobriu algo novo, trago más notícias. As obviedades de sua carta não passam de obviedades. Obviedades bastante obsoletas, aliás, apesar de ainda presentes em nosso cotidiano.
Suponho que nesses 4 anos você deve ter conhecido e gostado do clima dos botequins, porque o tom de sua carta é o que chamamos, tipicamente, de “conversa de botequim”. Se você não conhece o termo, é como designamos aquelas conversas em que as pessoas abordam temas supostamente polêmicos de forma rasa e com um ar de que sabem tudo sobre o assunto, sem porém apresentar nenhum fato, técnica, solução ou proposta produtiva. É o “falar por falar”, só para dizer que falou e sair do botequim achando que participou de uma conversa. De botequim, claro.
De qualquer forma, agradeço a iniciativa. Espero que você retorne ao Brasil e passe aqui muitos anos, para conhecer o Brasil de verdade. Um Brasil com gente desonesta sim, mas também com gente que pensa. Com bandidos sim, mas também com professores apaixonados pela sua arte, como a Fabiana Roque e a Cacau Nicolau. Um Brasil com políticos desonestos e com eleitores tão desonestos quanto eles, mas com garis que devolvem dinheiro quando encontram e funcionários de multinacionais que abrem processos internos para combater a falta de ética na empresa, mesmo sabendo que empresas cujas matrizes ficam em seu país não tomam atitude alguma, para não comprometer os resultados.
Espero que o Brasil esteja muito melhor quando você escrever sua próxima carta, e de coração, espero que você sinta o orgulho de ter feito alguma coisa para que essa melhora tenha ocorrido.
Com o afeto típico dos brasileiros,
Luciano Palma, um brasileiro.
Sobre empreendedorismo & palestras…
As palestras sobre empreendedorismo têm sido alvo de muitas discussões recentemente.
A análise que faço é baseada numa reflexão do Prof. Leandro Karnal: o empreendedorismo está sendo tratado como religião. Quem o prega (nem sempre praticando-o, seguindo à risca o exemplo de algumas religiões) coloca o empreendedorismo como o caminho único para a salvação. Não é.
Empreendedorismo é bom para empreendedores. Nem todo mundo quer (e muito menos precisa) ser um empreendedor. Se a pessoa está em paz prestando um concurso público, fazendo carreira numa empresa, trabalhando a vida inteira num mesmo cargo, pedindo esmola na rua ou trabalhando de graça para uma instituição de caridade… quem é o empreendedor para julgá-la? A coisa mais errada seria tirar alguém de uma atividade que está fazendo em paz, possivelmente com prazer e paixão e colocá-la numa atividade “porque alguém diz que isso é o que todos têm que fazer”.
A apologia a largar o emprego e empreender é muita falta de empatia com o próximo. Quem prega isso, na realidade, pode não estar tão bem resolvido assim, e talvez esteja tentando se autoafirmar pela normalização do outro (e se possível, do todo) de acordo com seus parâmetros. É uma atitude, mais do que egoísta, de alguém inseguro que está com medo de não ter suas escolhas aprovadas pelo grupo, portanto precisa convencer o grupo a gostar de suas escolhas. Infelizmente, às vezes alguns conseguem, para azar dele mesmo e do grupo.
Adoro dar palestras, e obviamente sou a favor de palestras. Só que palestras têm que ter conteúdo relevante para seu público alvo. Não consigo entender tantas palestras recheadas de “cagação de regras” para empreendedores. A característica maior do empreendedor é conhecer como o mundo funciona, e criar, ele mesmo, seu modelo para participar do jogo.
O empreendedor precisa ser criativo a ponto de não precisar seguir cartilhas (apesar de conhecê-las). Se alguém precisa de tantas regras e orientações para “empreender”, será que não está no lugar errado? Será que essa pessoa não tem um perfil mais adequado para buscar um emprego, com um chefe que lhe diga o que fazer?
De novo, não sou contra o compartilhamento de técnicas e de conhecimento através de palestras, mas acredito que palestras para empreendedores precisam ter menos “VOCÊ precisa fazer isso” e mais “EU FIZ isso, agora tire suas conclusões a aprenda, você, com minha experiência“. Porque empreendedores são capazes disso.
Empreendedores não precisam de autoajuda. Palestra de autoajuda para empreendedores é charlatanismo dos dois lados. Um empreendedor de verdade se recusaria a subir ao palco para fazer isso, e um empreendedor de verdade se recusaria a permanecer na platéia. Empreendedores já têm motivação de sobra. Quando vejo palestras de “empreendedorismo” na base da “autoajuda e motivação”, a imagem que me vem à mente é de crianças brincando de ser empreendedor. No palco e na platéia.