O [novo] Papel da Imprensa
Se você viveu no século passado deve se lembrar – mesmo que através dos gibis – da imagem do garoto com jornais na mão gritando: EXTRA! EXTRA!
Esta figura reflete o principal papel da imprensa até então:
descobrir e distribuir notícias.
Quando um fato muito importante era descoberto (algo que configurava um furo de reportagem – e que poderia tirar o rótulo de “foca” de um repórter), a atividade das prensas era interrompida para produzir uma edição “EXTRA” do jornal, contendo a novidade.
O garoto anúnciando aos brados a notícia “quentinha” era a forma de distribuir, da maneira mais rápida possível, o achado.
Até que apareceu a Internet.
Colapso do tempo e do espaço
A comunicação digital pulverizou algumas variáveis, mas a principal delas foi a distância. Não interessa se um vulcão entrou em erupção na Islândia. A informação percorre os quilômetros na velocidade da luz (literalmente), e isso acaba “condensando” também o tempo, porque se s = v * t, uma velocidade altíssima reduz o tempo a quase zero.
E todo mundo virou repórter…
Adicione a este cenário o fato que praticamente todo cidadão passou a ser um repórter potencial. Deslizou um morro no Rio? O vendedor de uma loja nas redondezas saca um celular, escreve um tweet e sobe a foto num dos inúmeros serviços gratuitos de publicação de fotos.
Até um repórter profissional chegar ao local, a notícia já está atingiu os quatro cantos do mundo!
Então prá que Imprensa?
Pois é… se a descoberta das notícias pode ser feita por qualquer um, se a distribuição é grátis e absurdamente veloz e eficiente, qual o Papel da Imprensa moderna?
Acredito que os novos papéis são:
- Validação da informação
Apesar das antigas funções de descoberta e distribuição de notícias estarem ao alcance de qualquer mortal, acreditar em tudo que for divulgado como notícia pode gerar problemas.
A disseminação de falsas notícias (intencionalmente ou não) pode ter grandes impactos.
Vejam a recente confusão nas Bolsas de Valores mundiais, cuja suposta causa foi a digitação incorreta de um caractere (“b” para bilhão ao invés de “m” para milhão).A Imprensa pode assumir um papel importante – e que já faz parte de seus processos – que é a validação da informação. Checar as fontes, checar os fatos, verificar se não há exageros ou eufemismos. Em outras palavras, garantir a qualidade da informação.
Não vai dar para fazer tudo isso numa velocidade maior do que o Twitter, mas basta ser rápido o suficiente para validar a informação em tempo hábil.
O “cidadão-repórter” vai vivenciar a notícia e vai publicar nas Redes Sociais. O leitor vai recebê-la e filtrá-la de acordo com a relevância para ele. Eventualmente, ele irá interromper suas atividades para tomar uma atitude em relação a esta notícia (nem que seja somente passá-la adiante). Antes disso, se for uma pessoa que zela pela sua reputação, ele irá buscar uma validação da informação. É nesse momento que o representante da Imprensa deve estar preparado, pois este cliente irá acessar seu site para ver se aquilo é mesmo verdade.
- Divulgação de notícias inacessíveis aos “cidadãos-repórteres”
Nem todas as notícias acontecem ao alcance de qualquer mortal. Nem todas elas fluem em uma linguagem acessível aos cidadãos comuns.
Notícias sobre política ou sobre eventos de acesso controlado vão continuar sendo descobertas por repórteres profissionais.
Entrevistas com políticos ou com celebridades continuarão dependendo dos crachás destes profissionais para abrirem as portas que dão acesso a esta informação.Além disso, a tradução da linguagem utilizada no ambiente onde a informação foi obtida para uma linguagem acessível às maiorias continará sendo valiosa. Lembram-se da “explicação” da Ministra Zélia sobre o Plano Collor? (Nem a Lillian Witte Fibe entendeu…)
- Manutenção do histórico
Os repórteres ocasionais publicam “notícias” por instintos muito parecidos daqueles que os levam a divulgar “fofocas”. Eles não têm um comprometimento de manter o histórico destas informações, muito menos de classificar ou agrupar informações relacionadas.
Este é mais um papel que a Imprensa já exerce e que continuará sendo importante para os seus clientes.
Mas… e o Papel?
Além do “Papel da Imprensa” conforme discutido acima… e o Papel da Imprensa, no sentido de meio físico?
Será que os meios digitais vão enterrar de vez o conceito “EXTRA! EXTRA!” através da sua instantaneidade?
Será que dispositivos como iPad e Kindle assumirão de vez o papel do Papel?
E quando isso será uma realidade palpável no Brasil?
Acredito que ainda existam grandes barreiras para a popularização do “jornal digital” fora da tela dos micros:
- Custo: tanto dos equipamentos quanto dos planos de conexão de dados.
- Segurança: seria prudente ler jornal num iPad no metrô ou em qualquer lugar público?
- Conteúdo: será que o conteúdo online já tem a mesma qualidade das versões impressas?
- Cultura e hábitos: ler no iPad pode ser uma das coisas mais cool atualmente, mas será que se tornará um hábito que sobrevirá aos modismos?
Como sempre, gostaria de ouvir a sua opinião! 😉