Quem nunca ouviu dizer que as coisas acontecem muito rápido na Internet?
Pois bem, isso vale para postagens em redes sociais, notícias ou comunicação instantânea, mas quando a mudança é mais estrutural, as coisas não andam tão rápido assim. Falando em “coisas”, aliás, essa discussão é sobre elas – as “coisas” que deveriam estar na Internet.
A Internet das Coisas
Há cerca de 10 anos o termo “Internet das Coisas” já era apresentado em slides de palestras descoladas, que anunciavam a chegada da hiperconectividade para a a semana seguinte. Só que as “coisas” não se conectaram tão rápido assim.
Um exemplo clássico à época era falar da “geladeira conectada”. Ela saberia o que tem dentro dela, avisaria quando algum suprimento está acabando e até aprenderia sobre seus hábitos de consumo. É bem verdade que uma coisa essas palestras deixaram claro: falar é muito mais fácil do que fazer acontecer. O PowerPoint aceita tudo, e sempre vai ter uma imagem impressionante na Internet pra fazer parecer que estamos a um passo do futuro.
A realidade? A realidade é que fazer as coisas dá trabalho. E não citei a geladeira à toa. Nos últimos 5 anos, venho trabalhando numa iniciativa para ajudar as pessoas a consertarem seus equipamentos domésticos, dentre eles… geladeiras!
Apesar de estar inserido nesse mercado, nunca vi uma geladeira conectada em minhas andanças. Então comecei a me questionar: “E eu? O que EU posso fazer para ajudar o mercado a dar um passo rumo à tal Internet das Coisas”?
IoT – um discurso que vende
Uma forma interessante de introduzir tecnologia no mercado seria agregar algum conhecimento sobre hardware (“eletrônica”) com conhecimento sobre redes e programação de computadores. Esses são os elementos para quem fala sobre “IoT” (ou “Internet of Things”, ou “Internet das Coisas” em tupiniquim mais claro) conceber soluções realmente impressionantes.
E basta falar a palavrinha mágica para que as pessoas se interessem. Não é raro ver startups falando em IoT, Inteligência Artificial e diversos outros jargões da moda para impressionarem potenciais investidores ou, pelo menos, dar uma inflada no ego ao impressionar um leigo. Entregar, que é bom…
Mas afinal, que raios é isso?
O conceito de IoT é simples, interessante e poderoso. Se colocarmos sistemas eletrônicos nos equipamentos que utilizamos, como sensores, painéis de interface e circuitos para comunicação com a Internet, podemos criar soluções tão interessantes quanto as palestras de 10 anos atrás. Não para que a geladeira descubra nossa marca de cerveja preferida (ainda), mas para algumas atividades mais simples, porém úteis e bem-vindas.
Na mercado em que estou atuando (manutenção de equipamentos de linha branca), algumas possibilidades são bem interessantes:
- Sensores podem detectar falhas no equipamento e acionar a assistência técnica;
- Sensores podem monitorar o funcionamento do aparelho, contabilizando inclusive o tempo e a carga à qual o equipamento está sujeito, de forma a sugerir manutenções preventivas que evitem que falhas ocorram. Estas ações podem ir da limpeza de filtros do ar-condicionado à troca de um componente que começa a apresentar um comportamento fora do padrão devido ao desgaste;
- As informações colhidas pelos sensores podem ser apresentadas ao usuário através de um painel de interface, para que alguma ação seja tomada;
- O usuário pode interagir com o equipamento, seja via painel de interface ou via acesso remoto – utilizando, por exemplo, um aplicativo para verificar se o ar-condicionado ficou ligado e desligá-lo mesmo estando longe de casa.
As possibilidades são inúmeras, e tenho certeza que você que está lendo já teve umas duas ou três ideias para usar uma “coisa” conectada.
Vende, mas entrega?
Bem… ao chegar em casa, contabilize quantos equipamentos você tem que permitem esse tipo de interação e responda você mesmo. Felizes aqueles que compraram um Google Home ou um Amazon Echo para sentirem-se com um pé no futuro nessa hora!
A implantação de um parque conectado está levando bem mais tempo do que as previsões das palestras. O custo envolvido é elevado, e o retorno para o consumidor ainda não é tão claro. Os “early adopters” da linha de cima ainda têm um árduo trabalho de convencimento de seus amigos para que o valor de IoT seja realmente algo que se possa considerar popular.
Assim como tantas outras tecnologias que foram prometidas, IoT ainda não está sendo entregue na mesma proporção que está sendo vendida.
IoT 0.5
É nesse cenário que, junto com o pessoal do Desquebre, cunhamos o termo “IoT 0.5”. É uma via intermediária entre equipamentos desconectados e equipamentos 100% conectados (IoT efetivo).
Para que o conceito fique claro, vou precisar explicar rapidamente o que é o Desquebre, projeto que mencionei lá no início. Trata-se de um sistema para ajudar as pessoas a consertarem seus equipamentos, através de um aplicativo (ou site) que fornece dicas para realizar consertos simples. Um exemplo: às vezes uma lavadora pode parar de funcionar só porque foi deslocada durante a limpeza da área de serviço, e ao ser empurrada de volta, a mangueira da água pode ter sido dobrada. Uma mera verificação desse item pode economizar muito tempo buscando assistência profissional, bem como poupar dinheiro e evitar transtornos ou dores de cabeça.
Nesse sistema, o usuário informa qual produto quebrou e os sintomas do defeito verificado. Após consultar as dicas, ele pode solicitar um técnico.
Você reparou que, nesse caso, o usuário de nosso sistema está fazendo o papel dos sensores e dos microprocessadores que estariam instalados num aparelho conectado? Afinal, um sensor detectaria a falha e enviaria a informação a um servidor na Internet, que é exatamente o que a pessoa está fazendo, de forma analógica e talvez não tão precisa, mas já é uma maneira muito interessante de ter dados sobre o que acontece no parque instalado. Como o celular que está sendo usado hoje é um computador completo (e conectado), dados como horário do problema, temperatura ambiente e posição geográfica também podem ser registrados. Um aparelho que nunca sonhou em ser uma “coisa da Internet” começa a ser monitorado da mesma forma que serão seus sucessores mais modernos.
Com essa iniciativa, usuários podem começar a notar os benefícios que IoT pode trazer, fornecedores podem começar a desfrutar das vantagens da coleta de dados sobre seus produtos e o “relacionamento” com nossos equipamentos começa a ficar mais moderno e eficiente.
Em resumo, você pode começar a usufruir das benesses do discurso sobre IoT hoje mesmo, participando do processo de conexão de seu equipamento à Internet através de uma tecnologia simples e sem ter que gastar dinheiro para isso.
Se você achou o conceito interessante, você também pode ajudar o mercado a adotar essa tecnologia, passando adiante essa mensagem e – porque não – dando uma dica antenada para seu amigo que está com um equipamento quebrado: aconselhe a experimentar o Desquebre! 😉