Tecnologia

Contra o vírus, números!

Em momentos de pandemia, apesar da biologia ser a ciência mais importante para combater o vírus, a matemática também pode contribuir de forma significativa.

Através da coleta e da análise de números sobre a pandemia de Covid-19, podemos buscar padrões para tentar antecipar o a forma com que o vírus se alastra.

Fiz uma análise bem pouco acadêmica dos dados da Itália (utilizando informações do Worldometers) e os resultados foram muito interessantes. Considerando que análises mais avançadas podem ser realizadas com técnicas e tecnologias existentes, fica claro que governos e sistemas de saúde podem se preparar melhor para o controle da pandemia se as aplicarem para realizarem boas previsões.

A tese inicial foi que o número de mortes diárias estaria relacionado com o número de novos casos por dia – o que parece razoável intuitivamente.
Com isso, analisei o gráfico de novos casos diários no dia 05/04/2020 e tracei uma curva – ainda que de forma um pouco grotesca – para representá-los (em vermelho):

Analisei então o gráfico de mortes por dia, e com a amplitude ajustada para a mesma do gráfico acima, procurei deslocar a curva em alguns dias, buscando um “encaixe” (que refletiria uma correlação), e de fato foi possível notar uma semelhança considerável nos gráficos, com uma defasagem de cerca de 8 dias:

O próximo passo foi fazer uma projeção da curva, novamente de forma intuitiva e sem grande embasamento teórico. Já era bastante razoável considerar, no dia 05/04/2020, que a “descida” da curva se daria de forma menos acentuada do que a subida (a projeção é a parte laranja):

Com base nessa projeção, é possível fazer um cálculo para tentar prever, aproximadamente, o número de mortes que devem acontecer na Itália.

Este número, infelizmente, aproximou-se do montante de 40.000 mortes.

2 semanas depois…

Passadas 2 semanas, resolvi revisitar os dados para ver o quanto a previsão inicial era razoável, e o resultado foi impressionate. Confira nos gráficos abaixo como os dados reais flutuaram em torno da curva projetada:

A nova curva “real” (vermelha) continua tendo uma forte correlação com a curva de mortes por dia – e permite, inclusive, ajustar a curva laranja para que as previsões sejam sempre mais apuradas:

Conclusão

Os números podem ajudar no combate ao Coronavírus, dando-nos uma direção sobre como será o comportamento da pandemia e permitindo o planejamento de recursos e de ações.

Obviamente, os dados precisam ser reais (ou próximos à realidade), pois fazer uma projeção com base em dados errados pode ser até pior do que não fazer projeção alguma.
Essa é uma das razões desta análise ter sido feita com dados da Itália. Infelizmente, os dados no Brasil não são confiáveis, pois por questões políticas, a subnotificação é notória e significativa. Percebe-se, inclusive, que os dados são bastante inconsistentes, o que torna as informações praticamente inúteis.

Com uma coleta extensiva de dados confiáveis e com tecnologias avançadas sendo efetivamente aplicadas, pode-se planejar, por exemplo, o envio de respiradores e/ou profissionais de saúde para cidades que irão efetivamente precisar deles daqui a 2 semanas, evitando que equipamentos caros e profissionais raros fiquem ociosos por estarem no lugar errado enquanto pessoas morrem.

Franquia? Todo cuidado é pouco!

Confira algumas dicas para não cair em golpes


O Brasil passa por um momento econômico delicado e o desemprego é um fantasma que ronda a cama de muitos executivos das classes média e média-alta.
Quando uma demissão acontece de surpresa, uma alternativa interessante para quem recebe uma rescisão polpuda – ou para quem fez um “pé-de-meia” durante alguns anos – é abrir um negócio próprio. Se a pessoa nunca teve experiência como empreendedor, uma franquia soa como uma excelente opção.

Definição de franquia

Cuidado!!!

Essa é a hora que um sonho pode se tornar rapidamente em um pesadelo.
Porque infelizmente, o mercado está repleto de armadilhas e de estelionatários que descobriram, no modelo de franquia, uma forma de fazer dinheiro fácil.

O golpe é bem simples de aplicar: encontre alguém que está com dinheiro em caixa, venda um sonho reluzente, pegue o dinheiro e deixe o otário a ver navios.
Parece exagero, mas há franquias especializadas em aplicar esse tipo de golpe.

Vender uma franquia é relativamente fácil, porque tudo acontece no papel. Basta apresentar uma proposta sexy, uma loja encantadora, produtos de primeira qualidade, planilhas de Excel que mostrem que a pessoa rapidamente atingirá o “break-even” e prometer que estará sempre lá para apoiar a vítima, digo, o franqueado, com a sua “experiência”.

“É uma cilada, Bino!”

Bino, ao descobrir que é uma cilada

Assisti a essa novela ao acompanhar uma amiga que decidiu abrir uma cafeteria. Encantou-se com uma proposta realmente bonita, e investiu numa franquia tudo que tinha economizado na vida.
Como o sonho vendido era de uma cafeteria elegante, fizeram-na comprar equipamentos [desnecessariamente] caríssimos e obrigaram-na a contratar uma arquiteta “parceira” que entregou um projeto “copy-paste” com inúmeros erros bastantes graves de arquitetura. Minha amiga também foi induzida a contratar uma empreiteira que, além de cobrar um valor exorbitante para reformar o imóvel que ela alugou, deixou a loja inacabada e com as partes entregues literalmente “desmontando”. Ela precisou contratar outra empresa para finalizar a obra e até hoje precisa “remendar” o projeto que pagou a peso de ouro, porque dentre outros problemas, a loja alagava quando chovia!

Mas o sofrimento não acaba com a parte civil. Foi durante o “treinamento” para a equipe que ela descobriu que os franqueadores não entendiam nada do negócio que eles vendiam. Um dos sócios (a empresa eram somente 2 irmãos) não conseguia acertar o ponto de um bolo. O outro fazia previsões teóricas que nunca se concretizaram. Pudera! Eles não possuíam uma loja sequer. Nunca tinham tido uma cafeteria, dá pra acreditar?!

A esse ponto, a cilada já ficava clara. Ela não recebeu nenhum material de marketing, e descobriu, tardiamente, que a empresa não fazia investimento algum em marketing e divulgação. O único negócio da empresa era vender franquias!

Oh, céus! Como me protejo disso?!

É importante fazer um trabalho minucioso de estudo de uma franquia antes de embarcar nessa aventura.

  • Pesquise o histórico dos franqueadores
    O modelo de negócio precisa ser comprovado. JAMAIS compre uma franquia de alguém que não passou ALGUMAS VEZES pela experiência que você irá passar. Se for para desbravar todo o território, desenvolver produtos, desenvolver material e estratégias para divulgar sua loja, criar processos de trabalho (como minha amiga precisou fazer), então você não precisa pagar para ninguém. Uma franquia deve oferecer tudo isso, e você deve se sentir seguro que os franqueadores têm experiência e competência para entregar essas promessas. Lembre-se também de fazer buscas na Internet (e em redes sociais) para levantar informações sobre os indivíduos com os quais você estabelecerá uma relação que, a princípio, deverá ser duradoura. Consulte currículos online para ver se a franquia realmente possui profissionais capacitados.
  • Converse com outros franqueados
    Visite outras unidades da franquia. Normalmente, franqueados se ajudam e trocam muitas informações entre si, portanto costumam ser bastante prestativos. Converse com os proprietários e jamais aceite fazer isso na presença do franqueador. Se um franqueador sugerir isso, DESCONFIE. Se o franqueador não quer que você fale direta e livremente com seus franqueados, é porque ele tem coisas para esconder de você e não quer que eles contem.
  • Seja cliente assíduo da franquia
    ANTES de pensar em adquirir uma franquia, frequente-a. Confira como você é tratado como cliente. É esse o atendimento que você vai querer prestar a seus clientes no futuro? A experiência que você teve é a que você quer oferecer?
    Conviver alguns dias como cliente permitirá entender um pouco da dinâmica do negócio, entender o fluxo, processos, horários de pico, fazer uma projeção aproximada de faturamento, tamanho da equipe necessária, treinamento, etc.
  • Leia a COF (Circular de Oferta de Franquia)
    A lei de franquias no Brasil é bastante flexível. Na prática, o que vale é o que está escrito na COF, que é o documento que rege a relação entre franqueador e franqueado. Esse documento não está escrito na pedra. Se você não concorda com algum item, proponha uma alteração. Negocie valores para taxa de franquia, royalties, taxa de marketing. Muitas franquias oferecem carência dos royalties nos primeiros meses, nos quais seu faturamento provavelmente será menor do que os custos e seu fluxo de caixa estará mais comprometido. Desconfie, porém, se o franqueador começar a fazer muitas concessões para fechar negócio. Se a franquia está mais interessada em receber dinheiro rapidamente do que em ajudar você a ganhar no longo prazo, isso é um péssimo indicador.
  • Consulte a ABF (Associação Brasileira de Franchising)
    A ABF é uma entidade sem fins lucrativos que busca desenvolver o sistema de franquias no Brasil. Franquias consolidadas associam-se à ABF e se comprometem a seguir as diretrizes da associação, além de participar de conferências, simpósios, seminários, palestras, cursos e encontros de formação técnica sobre o Franchising.
    Você pode consultar a lista de associados da ABF neste link.

Sempre funciona?

Empreender é assumir riscos. Significa que você pode vir a ganhar bem mais do que o salário que tinha, ter liberdade para fazer coisas do seu jeito, ter mais flexibilidade de horários, etc.
Por outro lado, pode significar também que suas economias de muito tempo virem pó.
Em resumo, qualquer um que afirmar que empreendendo você terá sucesso estará sendo leviano. Empreender é um eterno “talvez”.

Por melhor que você tenha escolhido a franquia para fazer parte, é sua responsabilidade gerenciar o negócio de forma que ele seja de fato lucrativo. O apoio sério, competente e profissional de uma franquia não fará que o dinheiro comece a brotar em seu caixa sem esforço. Ainda que você esteja usufruindo de um modelo de negócio validado e estruturado, a operação de sua unidade depende de você.

Conclusão

Uma franquia pode ser uma ótima opção para você começar a empreender. É justo pagar para usufruir a experiência de alguém e não precisar cometer erros e fazer ajustes que alguém já realizou.
Por outro lado, se você está pagando por um produto ou serviço, também é justo que isto lhe seja entregue!

As dicas aqui compartilhadas visam somente alertar as pessoas para que elas não caiam em “contos de vigários” como eu vi acontecer. Felizmente, minha amiga é uma pessoa dinâmica, experiente e competente (leia-se guerreira) e conseguiu desvencilhar-se da franquia e agora está tocando seu negócio próprio. O café agora chama-se Coffee Lounge e fica na região da Vila Olímpia.

Se eu vou mencionar o nome da franquia? Claro que sim, afinal, o objetivo de contar histórias aqui no blog é que as pessoas fiquem informadas!
Chama-se Coffeetown.


Nota: Minha empresa, Desquebre, fica sediada dentro da cafeteria mencionada. Se quiser parar para tomar um café e bater um papo, é só chamar. Aliás, recomendo experimentar o brownie e o moccacino! 😉 😉

IoT 0.5 – Uma proposta para pavimentar o caminho para a Internet das Coisas

Quem nunca ouviu dizer que as coisas acontecem muito rápido na Internet?
Pois bem, isso vale para postagens em redes sociais, notícias ou comunicação instantânea, mas quando a mudança é mais estrutural, as coisas não andam tão rápido assim. Falando em “coisas”, aliás, essa discussão é sobre elas – as “coisas” que deveriam estar na Internet.

A Internet das Coisas

Há cerca de 10 anos o termo “Internet das Coisas” já era apresentado em slides de palestras descoladas, que anunciavam a chegada da hiperconectividade para a a semana seguinte. Só que as “coisas” não se conectaram tão rápido assim.

Um exemplo clássico à época era falar da “geladeira conectada”. Ela saberia o que tem dentro dela, avisaria quando algum suprimento está acabando e até aprenderia sobre seus hábitos de consumo. É bem verdade que uma coisa essas palestras deixaram claro: falar é muito mais fácil do que fazer acontecer. O PowerPoint aceita tudo, e sempre vai ter uma imagem impressionante na Internet pra fazer parecer que estamos a um passo do futuro.

A realidade? A realidade é que fazer as coisas dá trabalho. E não citei a geladeira à toa. Nos últimos 5 anos, venho trabalhando numa iniciativa para ajudar as pessoas a consertarem seus equipamentos domésticos, dentre eles… geladeiras!

Apesar de estar inserido nesse mercado, nunca vi uma geladeira conectada em minhas andanças. Então comecei a me questionar: “E eu? O que EU posso fazer para ajudar o mercado a dar um passo rumo à tal Internet das Coisas”?

IoT – um discurso que vende

Uma forma interessante de introduzir tecnologia no mercado seria agregar algum conhecimento sobre hardware (“eletrônica”) com conhecimento sobre redes e programação de computadores. Esses são os elementos para quem fala sobre “IoT” (ou “Internet of Things”, ou “Internet das Coisas” em tupiniquim mais claro) conceber soluções realmente impressionantes.
E basta falar a palavrinha mágica para que as pessoas se interessem. Não é raro ver startups falando em IoT, Inteligência Artificial e diversos outros jargões da moda para impressionarem potenciais investidores ou, pelo menos, dar uma inflada no ego ao impressionar um leigo. Entregar, que é bom…

Mas afinal, que raios é isso?

O conceito de IoT é simples, interessante e poderoso. Se colocarmos sistemas eletrônicos nos equipamentos que utilizamos, como sensores, painéis de interface e circuitos para comunicação com a Internet, podemos criar soluções tão interessantes quanto as palestras de 10 anos atrás. Não para que a geladeira descubra nossa marca de cerveja preferida (ainda), mas para algumas atividades mais simples, porém úteis e bem-vindas.

Na mercado em que estou atuando (manutenção de equipamentos de linha branca), algumas possibilidades são bem interessantes:

  • Sensores podem detectar falhas no equipamento e acionar a assistência técnica;
  • Sensores podem monitorar o funcionamento do aparelho, contabilizando inclusive o tempo e a carga à qual o equipamento está sujeito, de forma a sugerir manutenções preventivas que evitem que falhas ocorram. Estas ações podem ir da limpeza de filtros do ar-condicionado à troca de um componente que começa a apresentar um comportamento fora do padrão devido ao desgaste;
  • As informações colhidas pelos sensores podem ser apresentadas ao usuário através de um painel de interface, para que alguma ação seja tomada;
  • O usuário pode interagir com o equipamento, seja via painel de interface ou via acesso remoto – utilizando, por exemplo, um aplicativo para verificar se o ar-condicionado ficou ligado e desligá-lo mesmo estando longe de casa.

As possibilidades são inúmeras, e tenho certeza que você que está lendo já teve umas duas ou três ideias para usar uma “coisa” conectada.

Vende, mas entrega?

Bem… ao chegar em casa, contabilize quantos equipamentos você tem que permitem esse tipo de interação e responda você mesmo. Felizes aqueles que compraram um Google Home ou um Amazon Echo para sentirem-se com um pé no futuro nessa hora!

A implantação de um parque conectado está levando bem mais tempo do que as previsões das palestras. O custo envolvido é elevado, e o retorno para o consumidor ainda não é tão claro. Os “early adopters” da linha de cima ainda têm um árduo trabalho de convencimento de seus amigos para que o valor de IoT seja realmente algo que se possa considerar popular.

Assim como tantas outras tecnologias que foram prometidas, IoT ainda não está sendo entregue na mesma proporção que está sendo vendida.

IoT 0.5

É nesse cenário que, junto com o pessoal do Desquebre, cunhamos o termo “IoT 0.5”. É uma via intermediária entre equipamentos desconectados e equipamentos 100% conectados (IoT efetivo).

Para que o conceito fique claro, vou precisar explicar rapidamente o que é o Desquebre, projeto que mencionei lá no início. Trata-se de um sistema para ajudar as pessoas a consertarem seus equipamentos, através de um aplicativo (ou site) que fornece dicas para realizar consertos simples. Um exemplo: às vezes uma lavadora pode parar de funcionar só porque foi deslocada durante a limpeza da área de serviço, e ao ser empurrada de volta, a mangueira da água pode ter sido dobrada. Uma mera verificação desse item pode economizar muito tempo buscando assistência profissional, bem como poupar dinheiro e evitar transtornos ou dores de cabeça.

Nesse sistema, o usuário informa qual produto quebrou e os sintomas do defeito verificado. Após consultar as dicas, ele pode solicitar um técnico.

Você reparou que, nesse caso, o usuário de nosso sistema está fazendo o papel dos sensores e dos microprocessadores que estariam instalados num aparelho conectado? Afinal, um sensor detectaria a falha e enviaria a informação a um servidor na Internet, que é exatamente o que a pessoa está fazendo, de forma analógica e talvez não tão precisa, mas já é uma maneira muito interessante de ter dados sobre o que acontece no parque instalado. Como o celular que está sendo usado hoje é um computador completo (e conectado), dados como horário do problema, temperatura ambiente e posição geográfica também podem ser registrados. Um aparelho que nunca sonhou em ser uma “coisa da Internet” começa a ser monitorado da mesma forma que serão seus sucessores mais modernos.

Com essa iniciativa, usuários podem começar a notar os benefícios que IoT pode trazer, fornecedores podem começar a desfrutar das vantagens da coleta de dados sobre seus produtos e o “relacionamento” com nossos equipamentos começa a ficar mais moderno e eficiente.

Em resumo, você pode começar a usufruir das benesses do discurso sobre IoT hoje mesmo, participando do processo de conexão de seu equipamento à Internet através de uma tecnologia simples e sem ter que gastar dinheiro para isso.

Se você achou o conceito interessante, você também pode ajudar o mercado a adotar essa tecnologia, passando adiante essa mensagem e – porque não – dando uma dica antenada para seu amigo que está com um equipamento quebrado: aconselhe a experimentar o Desquebre! 😉

Por que não quero ser Uber

Calma. Não estou falando em “ser Uber” no sentido de inscrever-me como motorista. Estou falando em fundar uma empresa que “se transforme num Uber”.
Sei que esse é o sonho de muita gente. Um sonho fácil de entender, porque muita gente cresceu com o sonho de ganhar na loteria, e provavelmente interpretem as duas coisas de forma muito parecidas: passar a ter uma montanha de dinheiro à disposição de uma hora para a outra.
Nem vou entrar no mérito de quanto as pessoas se iludem em relação às probabilidades disso acontecer (são bem parecidas entre a loteria e “virar um Uber”) e muito menos discutir o quanto isso não acontece de uma hora para a outra (no segundo caso).
O que quero pontuar aqui é que não me interessa chegar nesse destino. Muitos dirão: “Luciano, você é louco? Você não gostaria de ser bilionário???”. A resposta é “Não”.
Não faz sentido, pra mim, ser bilionário. Eu não teria como usufruir de tanto dinheiro durante o que me resta de vida (e não é por conta da minha meia-idade: isso vale também para quem ainda está entrando na adolescência). Não há como usufruir de bilhões sem ser por motivos tão gananciosos que cheguem a ser fúteis. Para mim, isso não interessa.
Nem mesmo a máscara de “bonzinho” que alguns bilionários tentam vestir me deslumbra. Porque acumular quantias exorbitantes de dinheiro para depois decidir, monocraticamente, como “reverter isso para a sociedade”, é coisa de quem convive com problemas internos tão gigantes quanto o próprio ego. E mais uma vez, para não fugir do tema, não vou entrar no mérito do quão hipócrita são essas “caridades”…
O custo de “virar um Uber”, face aos meus valores pessoais, é muito alto. Uma empresa assim inevitavelmente terá acionistas: investidores especuladores interessados nos dividendos que a empresa distribui e na exploração das variações das ações (tanto faz se para mais ou para menos). Afinal, o compromisso dos acionistas não é com a empresa, mas com o lucro especulativo das suas transações, que são vantajosas não só quando a ação sobe (realização de lucro), mas também quando ela desce (recompra conveniente).
E quando o lucro começa a pautar a empresa, ela se torna desumana. Ela perde o sentido que lhe deu vida. Espero não ter leitores maniqueístas que interpretem isso (erroneamente) como “O Luciano é contra o lucro”. É óbvio que, como alguém que está construindo uma empresa, eu busco lucro. O que não se pode confundir é “buscar o lucro” com “o lucro ser a razão de existir”. Por mais que a grande maioria dos empresários, investidores e especuladores negue, o lucro é o que pauta as ações dessa maioria. Procure no Google por “Ford Pinto case” e você verá do que estou falando…
É triste ver empresas que crescem a ponto de perderem sua essência. Empresas que até podem ter começado pensando em seus clientes, mas que quando atingem a prosperidade, passam a buscar crescimento de forma irracional. Correm atrás de números pelos números, como pessoas viciadas em jogos ou drogas, que querem ganhar ou consumir sempre mais, mais, mais, mais…
É nesse ponto que as ações começam a divergir das palavras da empresa. Empresas que declaram a famigerada tríade “missão, visão, valores” (sic) no papel, nos treinamentos e nos vídeos corporativos, que colocam em seus lemas coisas como “foco no cliente” (“Feito para você”, anyone?), mas entre lucro e cliente, não titubeiam em ficar com o primeiro.
Mais triste ainda é ver que o topo da pirâmide a contamina completamente, a ponto das pessoas da base repetirem o discurso e operacionalizarem as técnicas da empresa de forma tão mecânica quanto robôs. A razão desse comportamento tem origem similar: por mais que os funcionários de grandes corporações declarem nas redes sociais que adoram seus trabalhos, eles só estão lá pelo salário e pelo bônus. A prova disso é o culto à sexta-feira e o desespero para que chegue um feriado.
Eu espero que minha empresa cresça. Eu espero que dê lucro. Bastante. Eu só desejo, de coração, que esse lucro proporcione uma vida confortável e saudável a mim e àqueles que estiverem comigo no barco, mas que ele não seja, jamais, a razão de existirmos.
Quero ser grande. Não quero ser Uber.

Membro Embaixador do Campus São Paulo – a Google space

Ontem, 20/10/2016, foi um dia especial para mim.
Após cerca de 4 meses de convívio com esse espaço incrível que é o Campus São Paulo, fui agraciado com uma surpresa que me deixou muito honrado: o título de “Membro Embaixador” do Campus São Paulo – a Google space.
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Este reconhecimento já me deixou muito feliz, mas minha satisfação foi muito além do título em si. Olhar para o lado e ver uma dezena de embaixadores também apaixonados pelo conceito do Campus, sentir o espírito colaborativo de cada um deles, o brilho nos olhos e a vontade de fazer do Campus um lugar cada vez melhor – com a mesma paixão com que arrumamos nossa casa para receber amigos – é algo que não tem preço!
Fazer parte disso é uma honra. Ser recebido pela fantástica equipe que compõe o Campus e receber o carinho de cada um deles é um presente muito generoso que essas pessoas especiais nos proporcionaram.
Estou mais motivado do que nunca para falar sobre o Campus, mas hoje quero celebrar algo ainda mais especial: o fato de ver, finalmente, uma gigante de tecnologia mostrar que entendeu o espírito de Comunidade. O Campus já é uma expressão dessa visão acertada e genuína, mas o projeto de Membros Embaixadores estabelece um novo padrão na relação entre empresas e Comunidade. O time do Campus foi brilhante no conteúdo e na forma:

  1. Reconhecimento “now that”
    De acordo com Daniel Pink, o ser humano só desenvolve soluções criativas quando motivado de forma intrínseca. Ao contrário dos processos clássicos de motivação extrínseca (adotado pela esmagadora maioria das tentativas de motivar pessoas), que utiliza o modelo “if-then”, ou seja, “se você fizer isso, eu te dou aquilo”, o modelo “now that” – que visa a motivação intrínseca – reconhece um resultado após ele ter sido realizado. Se alguém realiza algo sem uma “cenoura” na frente, com certeza essa pessoa já está motivada (de forma intrínseca), mas quando esse tipo de reconhecimento chega (sem aviso prévio e sem nenhum “cumprimento formal de promessa”), a motivação é extremamente potencializada.
    Adivinhem se os Membors Embaixadores não estão com o medidor de motivação em 100% e mais um pouco… rs rs rs
  2. Obrigado. Gostaríamos que vocês continuassem fazendo o que já fazem
    Isso foi emocionante. Ouvir isso do time do Campus mostra que eles realmente estão 100% sintonizados com a Comunidade. Participam dela, convivem com as pessoas no dia-a-dia, conhecem os membros ativos pelo nome e por suas qualidades (e defeitos – alguns costumam esquecer o crachá, por exemplo… rs rs rs).
    Mais do que a participação ativa e genuína – coisa que está no sangue dos Googlers que gerenciam o Campus – a empresa mostra um profundo conhecimento e respeito pela dinâmica da Comunidade: não pediu nada em troca. Não colocou metas, receitas de bolo ou diretrizes para honrar o título de Membro Embaixador. “Só gostaríamos que vocês continuassem fazendo o que já fazem“. O peso (positivo) dessa frase é incrível. Ela carrega não só reconhecimento, mas é uma demonstração de confiança excepcional (e bastante rara no mundo corporativo). É como dizer: “Nós acreditamos naquilo que vocês acreditam. Nós confiamos nas ideias de vocês, e temos tanta certeza que vocês fazem coisas pelo Campus por paixão e de forma genuína, que estamos deixando vocês livres para fazerem o que vocês acham que é certo. NÓS CONFIAMOS EM VOCÊS“.
    Cá entre nós… você que tem uma relação de funcionário com sua empresa, quando foi a última vez que você ouviu isso de forma verdadeira? E que outra empresa diz isso para alguém que não tem nenhuma relação formal com ela? Pois é… o Google sempre levando os padrões para níveis mais altos…
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  3. Sem benefícios materiais pomposos
    Sim, você leu certo. Achei FANTÁSTICO que não tenha havido benefícios materiais de grande calibre. Nada de gadgets caros ou qualquer outro presente invejável que pudesse desviar a motivação intrínseca para algo extrínseco. Sim, rolou um “pin” lindo para colocar no crachá, um caderno tipo Moleskine de muito bom gosto (e de papel reciclado), uma camiseta, uma caneta e adesivos. Mimos para agradar sem extravagância. E isso foi simplesmente PERFEITO! Porque ponho minha mão no fogo que nenhum Membro Embaixador fez nada do que fez, ou fará alguma coisa no futuro, visando algum benefício material. Simplesmente não é essa a “pegada” de quem atua em Comunidade. Quem estimula a Comunidade através de presentes caros não entendeu absolutamente NADA de Comunidade. Voltando a Dan Pink, Comunidade é “now that”. Presente caro é “if-then”.
  4. Mi casa, su casa
    Acredito que todo Membro Embaixador já considere o Campus São Paulo uma extensão da sua casa. Ontem o time do Campus foi além. Chamaram-nos para dentro da casa deles, ou seja, nos levaram para o seu escritório, aonde o pessoal coloca as fotos da família, para nos agraciar com o título. Fizeram com que nos sentíssemos ainda mais em casa. Fizeram-nos sentir – ainda mais – parte do Campus. E para quem não ainda não conhece o Campus, eu faço questão de apresentar. Afinal, “mi casa, su casa”.
  5. Escolhas com muito “feeling”
    Aqui vou falar dos outros Membros Embaixadores. Conhecia alguns, outros já tinha visto, outros nem conhecia. A prova cabal que eu estava envolto de gente com espírito de Comunidade veio quando a “Ká”, ao agradecer pelo reconhecimento, já começou a pensar nas pessoas da Comunidade que não receberam o título. Ela se preocupou em analisar como se comportar para que ninguém se sentisse excluído, para garantir que essas pessoas vejam nesse título muito mais uma motivação do que um não-reconhecimento por quem eventualmente não o obteve. Eu achei INCRÍVEL. Era o dia de celebração da pessoa, mas ela continua pensando nos outros. Tem como imprimir mais “Kás” em impressora 3D, por favor?!

Como vocês perceberam, o Campus São Paulo é um espaço com muitas surpresas. A magia do local é tão grande que não caberia num post, então prometo que vou retomar o assunto com frequência para compartilhar o máximo que eu puder sobre esse projeto maravilhoso que é o Campus.
Estou muito feliz e honrado.
À equipe do Campus, MUITO OBRIGADO!!! 🙂 🙂 🙂

Google I/O 2016

Este ano consegui realizar algo que há tempos desejava muito: participar de um Google I/O.
As expectativas mal cabiam na mala. Lá vamos nós para a Califórnia, San Francisco Bay Area, Vale do Silício…

Prólogo

Eu ainda não conhecia o Vale. Fiquei impressionado com a região!
Só como exemplo, visitei a “California Academy of Science” e os monitores do local davam um show de conhecimento e didática. O que achei muito diferente, porém, estava do outro lado. Um público extremamente interessado no conhecimento, acompanhando as explicações (nada superficiais), entendendo tudo e fazendo perguntas inteligentes.
Isso me fez lembrar do que presencio no museu “Catavento” recorrentemente (e que me deixa muito triste). Pais que levam as crianças lá como se fosse um playground. Ao invés de ler e explicar as experiências para os filhos, os deixam rodar as manivelas de forma bem pouco cuidadosa, colocando em risco não só o próprio filho, mas também a instalação do museu. Conhecimento adquirido? O mesmo de rodar um registro de água na rua…
O material humano do Vale do Silício é realmente de primeira linha. Não dá vontade de voltar, ainda mais considerando o atual momento de irracionalidade do Brasil.

O evento

Gostei do keynote. O Google apresentou o “Google Assistant“, que se propõe a utilizar toda a inteligência que a empresa tem em seu motor de busca para ajudar as pessoas a realizar atividades do dia a dia. Onde ele se diferencia do Siri ou do Cortana? Ele tem o Google por trás. Aquilo que todo mundo faz, de sacar o celular e pesquisar no Google o termo ou a informação que surgiram na discussão, o Google Assistant faz para você, com velocidade e conforto.
O “Google Home” também vai além do “echo” da Amazon. Ele é a versão em hardware do Google Assistant, e sua proposta é a integração com toda a sua casa. Nos stands do evento, foram demonstradas muitas soluções de automação residencial que podem ser controladas, por voz, através do Google Home.
Allo” vem para incomodar o Whatsapp. Muita inteligência artificial por trás dele, para que você, além de conversar com seus amigos, tenha sempre o motor do Google Assistant para ajudar durante a conversa, como um “concierge” de informações. Boa proposta, mas que vai enfrentar um degrau bastante alto para conquistar o mercado de troca de mensagens. Por outro lado, o nome Google deve ajudar.
O Android “N” não chegou a trazer novidades radicais, mas arrancou de todos uma expressão de alívio com o anúncio do fim daquele momento “otimizando aplicativo 3/96” quando você precisa usar o telefone…
Meu prognóstico para o nome? Nutella, claro!!!
Outra coisa que gostei muito foi o anúncio das “Instant Apps“. Com esse recurso, você não precisa instalar a aplicação para utilizá-la. Somente os componentes necessários são automaticamente baixados, sem a necessidade do processo de instalação. Esse recurso me fez até pensar em migrar o DESQUEBRE, que é uma aplicação híbrida, para nativa, pois ela se encaixa perfeitamente nesse conceito.
As sessões? Falarei mais tarde sobre as sessões…

A mudança

A mudança mais radical do evento foi o local. Do tradicional Moscone Center em San Francisco para o Shoreline Amphitheatre em Mountain View. O evento passou a ser ao ar livre, num clima de festival. Houve shows e música à noite, em instalações que davam um ar de “rave” ao evento.
Apesar de muito bem-vinda no conceito, essa mudança trouxe alguns problemas. Após o keynote, formaram-se filas muito, mas muito grandes para assistir às sessões. E o sol estava castigando. Os bebedouros secaram. E muita gente ficava para fora porque as salas, subdimensionadas, lotavam rapidamente. Isso impossibilitou assistir mais do que 2 ou 3 sessões por dia, o que foi um ponto extremamente negativo do evento. Frustrante, eu diria.

As sessões

Pois então. Não pude entrar em muitas, por conta das filas. Estava super ansioso para me atualizar sobre o Design Sprint e saber como ele vem sendo aplicado, mas somente quem passou muito tempo ao sol quente, na fila, conseguiu essa proeza.
Das poucas sessões que consegui assistir, o que achei interessante foi o enfoque no Firebase como solução para criar aplicativos de forma simples e rápida. O modelo “real-time” do banco de dados do Firebase é realmente interessante, e para quem quer desenvolver uma solução de chat, por exemplo, é “killer”.
Também não consegui fazer “Code Labs” porque… tinha que ficar em alguma fila se quisesse assistir alguma sessão. O Google precisa rever completamente essa questão, pois esse fator prejudicou demais o evento e seus participantes.

O networking

Fantástico. Conversei com muita gente boa sobre uma proposta que pretendemos trazer através do Google Business Group São Paulo: o Startup Journey. Vale acompanhar o meetup do GBG São Paulo se você se interessa pelo tema.
Além disso, deu para conhecer algumas pessoas e rever muitas outras, porque a um certo ponto, a galera acabava desistindo de ficar nas filas e preferia investir o tempo em socialização e networking.

A cereja [faltando] no bolo

Uma tradição do Google I/O é a distribuição de gadgets para os participantes. Ao decidir se investia ou não na minha ida ao I/O (em fase de grana curta e estabelecimento de uma empresa), o argumento de um amigo me motivou: “você recupera a grana do ingresso só pelos gadgets que eles dão”.
Pois bem… este foi o primeiro ano de Google I/O sem brindes!
Como tuitei na hora que fiquei sabendo disso: o Google I/O virou Google “o-oh”. Nada de brindes. Ninguém foi para lá só por causa dos brindes, mas todo mundo tinha essa expectativa. Grande frustração.

Epílogo

O evento foi bom, mas bastante decepcionante para mim.
Esperava conseguir participar das sessões que tinha me planejado antecipadamente e esperava conseguir absorver mais informações e conhecimento.
O sol escaldante do primeiro dia e o frio congelante do último nos expuseram a um “desafio de sobrevivência” e trouxeram desconforto e dificuldades para tirar proveito do evento.
A menos que o Google demonstre de forma muito taxativa que os problemas de logística serão resolvidos nas próximas edições, não consigo me entusiasmar em realizar o investimento necessário para participar novamente de um evento desse (os custos no Vale são muito altos), nem recomendar para meus amigos que o façam.
 

Hackathon ou Hackatition?

Hackathons nasceram no final do século passado, como uma proposta de esforços colaborativos para criar software (ou hardware). O foco principal era o aprendizado em equipe, e dos primeiros hackathons surgiram até mesmo alguns softwares de sucesso, como o PhoneGap.
Essas atividades vêm se difundindo no Brasil, mas o espírito colaborativo – infelizmente – vem sendo deixado de lado.
Com prêmios reluzentes e muitos holofotes para promover hackathons, equipes se inscrevem com um o objetivo de vencer. Vale mais a vitória no hackathon em si do que a colaboração para a efetiva produção de algo em grupo.
Não há nada de errado nisso, mas talvez seja interessante termos uma nomenclatura mais adequada, para diferenciar os hackathons com o espírito original, colaborativo, dos “hackathons” mais competitivos, movidos a prêmios e promoção em grande escala.
Acho justo deixar o nome original com o pessoal “raiz”: a galera que se encontra para “hackear” algo de forma genuína.
Já para os “hackathons” competitivos, porque não chamá-los de “HACKATITIONS*”?
Muito preciosismo? Gostaria de saber sua opinião! 🙂

* Hackatition = Hack + competition

Não é uma meritocracia, mas mantenha a calma! Ainda assim, você pode vencer! (ou "a metáfora do jogo de golfe")

Startups no Brasil

Tenho participado de algumas discussões sobre Startups no Brasil, e nota-se alguns “padrões” nesse ecossistema.
Existe o pessoal que realmente quer mudar o mundo e que tem capacidade e vontade para isso. Existe a turma que acha que startup é um caminho mais fácil para ficar rico, sem precisar “perder tempo” fazendo uma faculdade e adquirindo experiência. Existem os iludidos, que vão atrás de tudo o que reluz. Existem os cheios da grana que, turbinados por ela, criam uma imagem de sucesso para massagear o ego. Existem profissionais experientes e visionários, que vêem no modelo uma forma de criar coisas novas. E existem também os sem-noção. Tem de tudo um pouco.
Dentre todos esses padrões, é possível dividir aqueles que terão sucesso em dois grupos: os altamente capazes e que não têm muitos recursos financeiros disponíveis e aqueles que têm MUITA grana (e que nem sempre precisam ser altamente capazes).

Recursos financeiros

Com muito dinheiro, dá para fazer a coisa dar certo “na força bruta”. Tenta, quebra, tenta, quebra, tenta, quebra, tenta, quebra de novo… Uma hora funciona, e então aciona-se uma máquina de marketing e relações públicas para divulgar (somente) essa iniciativa que deu certo. Pronto: uma imagem de sucesso está formada! Até criança é capaz de fazer sucesso assim (e existem casos).
Fazer sucesso sem ter (muito) dinheiro da família à disposição, porém, é bem diferente…

meritocracia

Capacidade

Recentemente, estive com um grupo de 12 desenvolvedores em formação. Dava para ver a qualidade dos jovens pelas perguntas feitas na palestra anterior e pela vontade de aprender estampada nos olhos daqueles jovens. Claramente, eles não tinham caminhões de dinheiro da família na garagem.
Um deles levantou dúvidas sobre a questão de “tentar e quebrar”, e senti a obrigação de ser honesto com eles em relação à questão privilégio x meritocracia (bem ilustrada no metáfora de acertar a bolinha de papel no lixo).

Tentar != Quebrar

Em discursos sobre startups, é frequente ouvir que “quebrar faz parte”. Em casos extremos há quase uma “apologia à quebra”. Eu acredito que “tentar faz parte”, mas “tentar” e “quebrar” não são sinônimos.
Como em tudo na vida, é necessário equilíbrio. Alguém que sai tentando coisas de forma irresponsável e sem se preparar não deve ser visto como exemplo. Por outro lado, uma pessoa que acreditou em sua ideia, validou, se preparou, planejou e tentou, eventualmente pode quebrar. Tentar faz parte, e o risco de quebrar existe. Nem por isso se deve sair tentando irresponsavelmente em nome da “agilidade”. Ao menos não todos…

Não é uma meritocracia

As consequências de quebrar podem ser muito diferentes dependendo do patrimônio que a pessoa (ou a família da pessoa) tem à disposição. Para quem possui um patrimônio de dezenas ou centenas de milhões, perder 500 mil não é um absurdo. Para quem só tem um apartamento de 2 quartos em bairro menos privilegiado e 2 filhos para criar, isso pode ser bem mais trágico. Quem tem grana pode usar a técnica da tentativa e erro. Quem não tem esse respaldo precisa ter uma mira mais acurada.

A metáfora do jogo de golfe

Durante essa conversa me ocorreu a metáfora de um jogo de golfe entre duas pessoas, uma muito rica e outra sem esse privilégio. Perguntei ao grupo quem ganharia a partida se um deles jogasse contra, digamos, o Thor Batista. Os olhares foram estranhos… 🙂 🙂
A grande diferença entre um deles (vamos chamar de João) e o Batista é que enquanto João tem direito a uma só bolinha, o filho do bilionário chegaria ao jogo com 1.500 bolinhas.
Batista pode perder todas as bolinhas sem grandes consequências, então ele começa, rapidamente, a atirá-las cobrindo 360 graus (“agilidade”), sem nem se preocupar para que lado é o buraco. Uma delas, eventualmente, cairá nele. Iniciativa à base da tentativa e erro.
João, por ter uma só bolinha, opta por estudar e treinar antes do jogo. Avalia a situação, o vento, o taco certo a usar, a força que deve ser colocada na tacada, etc.
Com tantas bolinhas, talvez Batista ganhe a partida na primeira rodada. Se ele não tiver essa sorte, porém, João passa a ter bem mais chances! Como Batista nem sabe qual bolinha pode ter chegado perto do buraco, ele começa o processo do zero, com mais 1.500 bolinhas financiadas pelo pai. João, por sua vez, pode não ter acertado o buraco na primeira tacada, mas com certeza sua bolinha está muito mais perto do objetivo. Suas chances são bem maiores agora. Seu estudo, planejamento e esforço têm grandes chances de vencer a sorte!

Conclusão

Não gostaria de ser mal entendido. O exemplo desse texto não deve conduzir a falsas dicotomias (“quem é capaz não tem dinheiro, quem tem dinheiro não é capaz“). Nem estou dizendo que não se deva assumir riscos. O que acho importante é avaliar o cenário em que VOCÊ se encontra antes de entrar no jogo. Nem sempre as regras são iguais para todos, e o bom jogador – aquele que provavelmente obterá bons resultados – é aquele que sabe tomar atitudes pensadas e equilibradas, com base nos recursos com os quais pode contar. Não acredite cegamente nas palestras motivacionais dos eventos. Não acredite que porque alguém teve sucesso você também terá. Absorva as informações e aplique à SUA realidade, com pensamento crítico e com muito estudo e planejamento.
E sim, TENTE! Porque só ganha o jogo quem entra em campo.

Porque é inteligente contratar mais mulheres

Nos últimos meses, tenho acompanhado algumas ações de inclusão de mulheres no mundo da tecnologia.
Nesse contexto, conheci pessoas fantásticas, com muita disposição para tornar nossa sociedade um lugar melhor para se viver.

GBGWomenSP
Encontro do GBG Women em São Paulo.

 
Analisando o tema, cheguei à conclusão que a decisão mais inteligente para uma empresa de tecnologia é contratar mais mulheres.
Antes de começar o raciocínio, porém, quero colocar algumas premissas que considerei:

  1. No mercado de tecnologia, a habilidade para criar e produzir não tem relação com gênero. Homens e mulheres são igualmente capazes para atuar neste setor.
  2. O número de mulheres na área de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) é 3 vezes menor do que o número de homens.
    (fonte:  http://www.esa.doc.gov/sites/default/files/womeninstemagaptoinnovation8311.pdf)
  3. A qualificação está distribuída de forma homogênea entre os profissionais do mercado.
  4. As empresas sempre contratam os profissionais mais qualificados.

Tenho consciência que as premissas 3 e 4 não são necessariamente verdadeiras, mas utilizei-as somente para facilitar o desenvolvimento do raciocínio. Ainda assim, espero que você também conclua que a análise continua válida.
 

Distribuição da qualificação dos profissionais

Em qualquer mercado, existem profissionais melhores e piores. Nessa análise, atribuí um número (de 1 a 10) para representar a qualificação de cada profissional. De acordo com nossas premissas 1 e 3, podemos representar um universo de 20 profissionais da seguinte forma:

Se uma empresa precisar contratar 10 profissionais desse universo, e considerando a premissa 4, a melhor seleção seria a seguinte:

 

  • A relação entre homens e mulheres está balanceada
    (50% de homens e 50% de mulheres).
  • A qualificação média da empresa é 8,0.
  • Os profissionais menos qualificados possuem um nivel “6”.







 

[Má] Distribuição de profissionais por gênero

Na realidade, poucas empresas de tecnologia possuem quadros tão balanceados quanto o anterior.
Veja o que acontece quando uma empresa contrata 70% de homens e 30% de mulheres neste mesmo universo:

 

  • A qualificação média da empresa caiu para 7,6.
  • O profissional menos qualificado possui um nivel “4”.









E se levarmos a relação para 90% de homens e 10% de mulheres, teremos:

 

  • A qualificação média da empresa caiu para 6,4.
  • O profissional menos qualificado possui um nivel “2”.









Infelizmente, a maior parte das empresas se encontra em uma situação entre as últimas duas tabelas.
Pelo simples fato de termos uma distribuição menos balanceada entre gêneros, nossas empresas são menos produtivas do que empresas balanceadas.

Conclusão: Contrate mais mulheres!

Se sua empresa é composta de mais homens do que mulheres, contrate mais mulheres! Balanceie sua empresa. As vantagens trazidas por essa decisão vão bem além dos pontos abordados neste post (ambientes equilibrados são mais agradáveis, possuem maior diversidade e, consequentemente, tornam-se mais inovadores).
É a decisão mais inteligente para a sua empresa. É a decisão mais consciente para sua sociedade! 🙂
 

O gadget do ano (2014)

2014 foi um ano marcante, com coisas boas e coisas ruins. A pior delas – de longe – foi a polarização e o extremismo que marcaram as eleições. Foi o pleito mais feio e de baixo nível que já presenciei. Assunto fechado, porque é bem melhor focar nas coisas boas.

365 dias em 60 segundos

O ano passado foi particularmente interessante para mim. Assumi riscos e vi o quanto vale a pena fazer o que você acha certo e acredita. 2014 mostrou que a coisa mais errada que podemos fazer é nos acomodar naquilo que nos dá segurança, mesmo que o custo dessa segurança seja não ter prazer em sair da cama, sentir sua criatividade e potencial tolhidos e passar o dia fingindo que não vê um mar de coisas erradas, ostentando um sorriso amarelo que somatiza doenças. Já tive minha dose disso na vida e, pelo visto, aprendi a sair ileso dessa armadilha! 🙂

GBG
Uma parte das pessoas fantásticas com quem trabalhei em 2014.

Tive o prazer de conhecer por dentro uma das melhores empresas em que já trabalhei (talvez a melhor). E tive o prazer de trabalhar com gente fantástica e apaixonada. Quem conhece os GBGs sabe do que estou falando!
E o prazer não parou por aí! Estive em contato com novas tecnologias, fazendo o que mais gosto: aprendendo e compartilhando. A vedete de 2014 foi a tecnologia “wearable”, e por isso o título desse post. O que eu considero o “gadget de 2014” é uma expressão dessa tecnologia: o smartwatch Moto 360. Já já explico porque elegi particularmente este modelo.
Moto 360 e LG G Watch R
Moto 360 e LG G Watch R

OK, Google.
Para que serve o smartwatch?

Não compre um smartwatch se não tiver essa resposta muito clara em sua mente. E se você tiver, as chances de querer comprar um são enormes!
Os conceitos mais importantes são:

  1. O smartwatch NÃO É um smartphone de pulso
  2. O smartwatch é um COMPLEMENTO do smartphone
  3. O smartwatch faz você economizar o que um relógio mede: tempo!

1. O smartwatch NÃO É um smartphone de pulso

Há duas razões básicas para um smartwatch não ser um substituto do seu smartphone: o tamanho da tela e o tamanho da bateria*.

Tamanho da tela

Não dá para fazer tudo o que se faz no smartphone na tela do seu relógio. Se muita gente ainda precisa abrir uma tela de notebook para algumas responder um email mais complexo, imagine a aflição de querer fazer isso usando só o relógio. Simplesmente não rola.

Tamanho da bateria

Um smartwatch precisa – ao menos minimamente – lembrar um relógio de pulso. Apesar de existirem alguns relógios “cebolões” no mercado, a maioria das pessoas ainda prefere relógios que não causem cãimbras. Para serem leves e atraentes, não dá para exagerar na bateria. E nem precisa, porque ninguém quer passar a maior parte do dia operando um relógio (exceção feita aos dois primeiros dias de deslumbre).

* Daria até para ir além e dizer que o processador não pode ser tão potente (ao menos não atual-mente), caso contrário ele fritaria o seu pulso e deixaria você sem bateria antes da hora do almoço.

2. O smartwatch é um COMPLEMENTO do smartphone

Se a ideia não é fazer com o smartwatch tudo que se pode fazer no smartphone, então o que deve ser feito usando um relógio inteligente? A primeira resposta que me vem a mente é: NADA.
O que não significa que ELE não possa fazer algo por nós!!
E aí que entra a mágica do smartphone: o conceito de “microinteração”.

Interações x microinterações

Você INTERAGE com seu smartphone. Quando ele treme ou apita, você o tira do bolso, destrava a tela**, abre a aplicação que gerou a notificação e “consome o conteúdo” – seja uma mensagem, um email do chefe, um comentário num post seu, um selfie daquela tia que pediu ajuda para você “instalar” o pau-de-selfie que ela comprou no Promocenter…
E aí entra em ação o efeito “Jacke”. “Já que” você está com o smartphone na mão, você “bizolha” o Facebook, dá uma conferida se responderam aquele email, confere se vai chover, etc, etc, etc, até ouvir o “hum-hum”. Da pessoa que estava falando com você. Embaraçad@, você pede desculpas e el@ faz cara de quem te perdoou (não acredite nisso).
O mais impressionante não é o fato de você lembrar que já fez isso ao ler esse texto. É o fato dos usuários fazerem isso 150 vezes por dia, em média!!!
Aí que entra o smartwatch. Será que você precisa MESMO tirar o smartphone do bolso toda vez que ele vibra? E se for só [mais] uma foto da tia do pau-de-selfie? Vale a interrupção?
O smartwatch vibra bem discretamente e coloca um resumo muito sucinto do que está acontecendo em sua telinha. O suficiente para você dar aquela “olhadinha”, como se estivesse vendo as horas, sem ficar com aquela sensação de desrespeito ao seu interlocutor. Acontece uma “microinteração” que não interrompe o fluxo. Se for urgente mesmo, você pode explicar educadamente e pedir licença para interagir, mas se for algo que pode esperar, você não perde o momento. Parece um detalhe, mas faz uma diferença MUITO grande nas suas interações com seres humanos. O smartphone pode esperar.

** Sim, você PRECISA configurar seu smartphone para que ele se bloqueie. Smartphones são “perdíveis”, “roubáveis”, “esquecíveis” e “espiáveis”. E eles contém boa parte da sua vida!!! Lembre-se que um telefone destravado oferece aos curiosos acesso a todos os seus emails. E ao Facebook. E às conversas privadas do Facebook e do Whatsapp. Não está convencid@ ainda? OK… Então lembre-se do Tinder! 😛

3. O smartwatch faz você economizar o que um relógio mede: tempo!

Com essa substituição de interações por microinterações, e com o seu filtro de bom-senso ativado, você pode economizar importantes segundos, ou até minutos a cada interação. Parece bobagem, mas lembre-se que isso acontece 150 vezes por dia! Se a interação média for de 20 segundos e metade das iterações puderem esperar, é quase meia hora por dia que você ganha! Conta rápida: se alguém “custa” R$ 30/hora, um smartwatch de R$ 750 se paga em menos de 2 meses!!!
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E o Moto 360 levou essa!

Fiz esse discurso diversas vezes nos Design Sprints. Sem um smartwatch no pulso. Percebi que tinha que testar isso na prática para ter mais credibilidade, então chegou a hora de escolher um modelo. A decisão não foi difícil. Eu sou um cara “compacto” (rs rs) e não curto “cebolões”. Os relógios quadrados, além de parecerem maiores, não se parecem com relógios. São “smartwatches” demais na aparência. Achei os redondos definitivamente mais elegantes (além de não enroscar na manga comprida), e isso facilitou as coisas: sobraram o LG G Watch R e o Moto 360. Em termos de especificações técnicas, eles se equivalem. O LG tem um sensor de pressão que o Moto 360 não tem. Ambos têm pedômetro e medidor de frequência cardíaca***. Ambos são bonitos. O charme do LG está no seu aro externo, que permite que a tela seja totalmente redonda. O charme do Motorola está em não ter esse aro, o que lhe custa um corte na parte inferior da tela (ela é “quase” redonda).
Disputa equilibradíssima, levei em conta o fato de ter passado dos 40 e com isso, precisar de óculos “para perto”. Apesar de ter os mesmos pixels do LG, a tela do Moto 360 é fisicamente maior (não tem aquele aro, lembra?), e isso ajuda o velhinho aqui a ler o relógio, afinal número de ppp (pontos por polegada) maior só é bom para quem está com a vista zerada 😉
O post já está grande demais para contar o ótimo atendimento pós-venda que recebi da Motorola (que soube reverter uma pisada na bola da loja online), mas retomamos esse papo num momento oportuno!

*** O medidor de frequência cardíaca é bom para ter uma referência, mas não recomendo para quem quer fazer um acompanhamento mais sério. Eu uso nos deslocamentos de bike (20 minutos em média) e o smartwatch faz umas 5 ou 6 amostragens nesse período (imagino que ficar medindo toda hora consumiria muita bateria). É legal para ter uma ideia se você está se condicionando, mas o relógio não avisa se na subida da Hélio Pelegrino seu coração passar de 160 bpm.

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